Quem sou eu

Minha foto
Desejam falar comigo? *Escrevam seus comentários, que assim que puder, entrarei em contato. Eu não uso outlook.

Pelo mundo

terça-feira, 14 de abril de 2009

Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato IV: O cantar da Cotovia- parte 3

foto: a despedida

Romeu chega acompanhado de Baltazar e antes que pulasse o muro, o criado fez-lhe algumas admoestações.
— Senhor, irei à vossa casa para trazer-vos o cavalo e um manto, para que possas vosso rosto ocultar, quando daqui saíres.
— Obrigado, meu fiel companheiro.
— E prudência, como vos recomendou o frade amigo. Creio não ficares afastado tanto tempo. O príncipe será clemente...— sorri Baltazar confiante.
Romeu dá-lhe uns tapinhas suaves no rosto e sobe.
— Boa sorte, senhor — deseja o criado.
A ama já o aguardava na sacada com as cordas a postos, enquanto a menina torcia as mãos inquietas.
— Será que ele virá?
— Claro, minha filha! Romeu não tardará...
— Meus pais já se recolheram?
— Sim! Eu mesma cuidei disso! Só alguns criados estão preparando o corpo de Teobaldo. Deus ampare as almas cristãs... — fala ela benzendo-se.
Julieta estremece com a lembrança do primo morto. Ela nem teve coragem de ir vê-lo.
— Não foi difícil convencer vossos parentes a deitarem-se cedo, pois amanhã será um dia fastidioso... Oh! Ei-lo! Romeu chegou! — anuncia ela.
Julieta corre à sacada
— Romeu... — fala a ele feliz.
A ama estende as cordas e Romeu sobe rápido. Ambos se abraçam e consolam-se mutuamente e a ama sai do quarto, para deixá-los a sós e esconder-se para vigiar. A qualquer sinal de anormalidade, ela bateria para avisá-los.
— Oh, Julieta! Eu não queria matá-lo... perdoa-me...
— Shhhh! Eu sei, querido, eu sei... Pelo menos estás vivo, embora tenha custado a vida de meu primo. Eu não suportaria sabê-lo morto, seria o fim para mim... Oh, Romeu! Abrace-me e esqueçamos as desventuras deste dia. Vem e que desta noite, só cultivemos alegria...
Eles se beijam e Julieta o conduz ao leito. Passaram juntos a noite, como marido e mulher, e esqueceram-se do mundo e dos dissabores. Por sorte, nada conseguira atrapalhá-los e a fiel ama, permanecia de vigília.
Romeu consolou-a o máximo que pôde e deixou-se também consolar, renovando mais uma vez, os votos de seus amores.
— Irei para Mântua e lá vou preparar um lugar para nós dois. Meu pai não irá deixar-me desamparado e assim que estabilizar-me, voltarei às ocultas para buscar-te — promete ele.
— Oh, meu esposo querido! Que seja feito tão logo como o dizes! Quanto a mim, guardar-me-ei fiel a ti...
Beijam-se outra vez e permaneceram na doce companhia um do outro, até adormecerem, vencidos pelo cansaço.
Baltazar já havia providenciado tudo e quando a madrugada já ia adiantada, postou-se de guarda sob o muro capuleto, para esperar o amo e conduzi-lo em segurança para o exílio.
Quando começava a raiar o dia, Romeu acorda com o cantar da cotovia. Ao sentir que ele se levantava, Julieta também desperta...
— Já vais partir? O dia ainda está longe. Foi apenas um rouxinol... todas as noites ele canta nos galhos da romeira... — fala ainda sonolenta.
— É a cotovia, o arauto da manhã, não foi o rouxinol. As candeias da noite se apagaram e o alegre dia se ergue sobre a ponta dos pés... Ou parto, e vivo, ou morrerei, ficando.
— Não é do sol a claridade, mas da lua que a claridade do sol exala, para que te sirva de tocheiro esta noite e te ilumine no caminho de Mântua. Assim, espera, não precisas partir tão cedo, fica ainda mais um cadinho comigo — pede ela suplicante.
Romeu volta para a cama e deita-se, abraçando-a e beijando-a em seguida.
— Ficar para mim é grande ventura; partir é dor. Oh, que importa? Que me prendam, que me matem! Serei feliz assim, se assim o quiseres... — beija-a de novo. — Direi que ainda não é o olho do dia que, indiscreto, devassa o leito do Amor, apenas o reflexo da alta Diana e que não foi a cotovia que cantou. Vem logo, morte dura! Julieta assim deseja! Não, não é dia...
Ambos continuaram a se abraçar e beijar. Julieta ri com as carícias de Romeu, porém, de repente e já desperta, exclama assustada, reconhecendo o tom insistente do pássaro que cantava.
Oh, não! Era a cotovia! É ela sim! É dia! Foge!!!
Ela se levanta correndo, veste-se às pressas e pega as roupas de Romeu.
É a maldita, que canta desafinada e rouca! Dizem que seu cantar é fonte de harmonia, mas para mim só ouço discordâncias, pois ora nos divide, obrigando-o a partir — chora ela, ajudando-o a vestir-se. — Romeu, depressa! A noite se abrevia e a luz aumenta a cada instante...
— Para mim, a luz é a escuridão apavorante! — fala ele vestindo-se.
A ama bate à porta.
Julieta, já está amanhecendo! Romeu tem que partir!
Oh, vai! — fala ela empurrando-o à sacada.
— Adeus! Adeus! Um beijo e desço logo!
—Pela janela entra o dia e para mim foge a vida! Meu senhor! — fala chorando. — Notícias tuas quero ter todas as horas...
—Não deixarei passar um só momento, sem contar-vos do meu tormento — promete ele acariciando-a e enxugando as lágrimas que caíam copiosas, no que ele também chorou. Pousou um beijo respeitoso na testa da esposa e desceu.
Romeu! Pensas que ainda nos veremos?
Não o duvides, querida! Todas estas horas nos servirão ainda, unicamente, para mais doces transformar nossos momentos.
Oh, Deus do céu! Um coração tenho agourento! Vendo-te assim tão longe, parece que estás sem vida, dentro de um sepulcro! Vejo mal, ou estás de fato pálido?
Podes crer-me, querida, de igual modo tu me pareces. Mas é a aflição sedenta que nos bebe todo o sangue, nada mais! Adeus!
Romeu infiltra-se entre os arbustos e sai, deixando Julieta a chorar sua partida.
— Por Deus, senhor! Demoraste! — reclama Baltazar. — Já estava aflito!
— Dê-me o manto e partamos!
— Espero que nenhum guarda nos surpreenda... — fala o criado preocupado.




continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário