Quem sou eu
- Paula Dunguel(S.Lopes^^')- Alguém que respeita e ama as artes e culturas em geral.
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Pelo mundo
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Mensagem de Fim de Ano
Recados atualizados para você enviar no Orkut!
Malba Tahan-Um conto especial
*em comemoração ao Fim do Ano, um conto de Malba Tahan para vcs
SENHOR, EU NÃO SOU DIGNO.
Há muito tempo, em Roma, para além da Porta Nomentana, erguia-se um amontoado de míseros casebres, onde viviam centenas de escravos foragidos, comediantes arruinados, mendigos, traficantes e gladiadores estropiados, que pareciam mais ameaçadores com seus andrajos do que os arrogantes vigias do Emporium com suas pesadas lanças rebrilhantes. Aquele perigoso refúgio, raramente visitado pelos agentes de César, era apelidado a “Pequena Salária” ou melhor “ A Salária”.
Por entre as vielas sórdidas e sombrias da Salária, um dos tipos mais populares era o velho Flaminius, o Sereno. Pela manhã, muito cedo ainda, arrastando-se lentamente, deixava o seu miserável tugúrio e dirigia-se para o pátio da Semita, em busca de sol, sob as árvores ferrugentas.
Era um homem alto, magro, de faces amortecidas e olhar distraído. A sua cabeleira, inteiramente branca, sempre revolta, dava-lhe uma estranha aparên-cia de profeta gaulês. Usava, habitualmente, uma espécie de túnica palmata, a-vermelhada, suja, esfarrapada, que mal lhe chegava até os joelhos.
De que vivia? Onde ia buscar recursos aquele ancião que não esmolava na Praça do Mercado nem era visto a tirar sortes nas escadarias dos templos?
Repontava aí a sombra de um mistério, que o tempo jamais conseguiria esclarecer. Garantiam alguns que o velho Flaminius era amparado por um antigo senador, íntimo de Augusto, que ele conhecera muitos anos antes, em Nápoles, quando trabalhava no porto, carregando as galeras de Tibério.
E, na verdade, Flaminius, que agora arrastava a sua triste decrepitude na Salária, tivera, em sua vida, um período de prosperidade e alegria. Casara-se com uma camponesa da Sicília e tivera dois filhos. Um deles — Cláudio, o Belo — fizera-se poeta. Tornara-se popular na corte. As suas poesias eram declamadas pelos nobres e elogiadas pelo imperador. Até os cônsules, altivos, com prestígio entre os senadores, invejavam os triunfos do jovem Cláudio.
Flaminius orgulhava-se daquele filho, que os deuses haviam cumulado de talento.
Mas Cláudio era ambicioso. Ligou-se a um certo Marcus Lucius, político sem escrúpulos, que Tibério escolhera, no período mais agitado de seu governo, para pacificar uma província grega. Lucius partiu e levou o poeta. E, de Atenas, Cláudio jamais regressou.
O desaparecimento do filho amado navalhou o coração de Flaminius. Abandonou o trabalho em Nápoles e passou a viver em Roma, entre aventureiros da pior espécie, sem pão, sem conforto, sem esperança. Sua esposa o deixou e foi para a Espanha, com alguns parentes ricos. O filho mais moço fez-se soldado e alistou-se nas legiões de César.
E, no entanto, Flaminius, no meio de tanta desgraça, sentia-se feliz.
As palavras que ele ouvira de um oráculo do Templo de Vesta enchia o seu coração de esperanças.
Passara-se o caso num dos últimos dias de setembro, quando os fiéis traziam suas oferendas aos deuses. Cruzava Flaminius o átrio do templo, quando ouviu que o chamavam. Era um dos oráculos. Trajava uma túnica branca, muito alva, vistosamente recamada de franjas. Na manga direita, que se abria em leque, aparecia, desenhada, uma figura estranha — dragão, esfinge, serpente ou coisa parecida.
— Não te lembras de mim, Flaminius?
O ancião aproximou-se, desconfiado. Surpreendia-o, além do mais, o tom amistoso daquele profeta de olhos mortiços e rosto pálido.
— Quero recordar-te — prosseguiu o oráculo, olhando fitono velho. — Há vários anos passados (reinava o divino Augusto), em Nápoles, certa noite, socorreste um viajante que fora assaltado no porto. Graças a teu auxílio, ele conseguiu livrar-se dos sicários. Esse viajante era precisamente eu. Devo-te, portanto, a vida. Quero agora prestar-te igualmente um benefício. Vou ler o teu futuro.
Flaminius parou diante do oráculo. Cruzou os braços sobre o peito e aguardou impassível a terrível e arrebatada sentença. Curiosos que perambulavam entre as colunas aproximaram-se em silêncio.
— O teu nome será esquecido. A tua memória será apagada por completo e desaparecerá como as cinzas levadas pelo vento. Mas as palavras admiráveis de teu filho jamais serão olvidadas. Milhões e milhões de homens, no desenrolar dos séculos, repetirão por todos os recantos do mundo as palavras de teu filho! Que júbilo, que glória imensa para o teu coração de pai!
Ao retornar ao seu casebre de Salária, o velho Flaminius assim meditava:
— Vivi sempre obscuro; morrerei esquecido e obscuro. Não importa! Mas a glória perpetuará, sobre a terra, o nome de Cláudio, meu filho. Os seus versos adoráveis, que César não se cansava de repetir, serão lembrados pelos homens, no desenrolar dos séculos!
E aquele êxito do filho poeta trazia infinita alegria e tranqüilidade ao coração do velho romano.
— Que importa a pobreza em que vivo! Consola-me a certeza de que meu filho Cláudio terá por prêmio a imortalidade!
E o velho Flaminius, a quem as palavras do oráculo deram alento para resistir a todas as amarguras e vicissitudes de sua negra existência, teve um fim trágico. Ao regressar, um dia, de uma visita ao Templo de Júpiter, avistou, num recanto da praça Salutis, um soldado espancando cruelmente uma pobre menina. Revoltado com aquela covardia, tentou o ancião socorrer a pequena. O agressor, irritado com a intervenção daquele desconhecido, não exitou em atravessá-lo com uma punhalada.
Flaminius pereceu heroicamente. E no dia seguinte, um mendigo sem rumo, no seu andar bamboleante, avistou casualmente a miserável mansarda em completo abandono, na Salária. Apoderou-se dela, atirou para ali seus trapos, sem indagar do destino que levava o primitivo dono.
E assim como previra o oráculo, como a cinza que o vento espalha, apagou-se entre os homens a lembrança daquele que fora em vida Flaminius, o Sereno.
Conduzido à mansão dos justos, viu Flaminius surgir diante dele a figura radiosa de um Anjo.
— Flaminius — disse o enviado de Deus, em tom mavioso de paciência —, a tua morte gloriosa fez remir todos os erros e pecados de tua existência. Cabe-te, pois, uma recompensa no céu. Fala, meu bom amigo, e o Eterno ouvirá a tua voz.
Respondeu Flaminius na sua simplicidade:
— Nada fiz, estou certo, para merecer a menor recompensa da misericórdia de Deus. Confesso, porém, que tenho o coração torturado por uma grande angústia. Gostaria de retornar ao mundo, no fim de alguns séculos, a fim de verificar se os homens ( conforme me garantiu o oráculo) conservam, na memória, os versos de meu filho. Que indizível alegria para mim certificar-me de que meu filho, por seu gênio incomparável, se tornou imortal!
Deus, na sua infinita misericórdia, atendeu ao pedido daquele pai. E decorridos dezenove séculos, Flaminius, conduzido por um Anjo, retornou à Roma.
Por todos os recantos da terra erguiam-se cruzes. A religião que César havia desprezado, a princípio, e perseguido mais tarde, vencera, afinal, e dominava o mundo.
Flaminius, o Sereno, guiado pelo Anjo, entrou num grande Templo cristão. Milhares de fiéis achavam-se em oração; um jovem sacerdote, revestido de riquíssima paramenta, debruada com fios de ouro, junto a um belíssimo altar, adorava o verdadeiro Deus, Jesus, Nosso Senhor!
Flaminius não cabia em si de deslumbramento! Tudo ali era para ele motivo de indescritível assombro! E balbuciou muito humilde (e suas palavras só eram ouvidas pelo Anjo):
— E os versos de meu filho? Poderei ouvi-los, aqui, neste Templo, cheio de cristãos, que erguem para os céus as suas preces lamuriantes?
— Sim — confirmou o Anjo —, dentro de alguns instantes! Rejubila-te! Todos os cristãos, aqui reunidos, repetirão as palavras de teu filho!
Decorridos alguns minutos, cessaram os cânticos. Fez-se profundo silêncio. E o sacerdote, batendo no peito três vezes, suplicou cheio de humildade e confiança:
— DOMINI, NON SUM DIGNUS UT INTRES SUB TECTUM MEUM...
( Senhor, eu não sou digno de que entreis na minha casa...)
— Eis aí — acudiu o Anjo. — Acabaste de ouvir! Foram estas palavras proferidas, há muitos séculos, por teu filho, e até hoje os homens as repetem diante de Deus! Sinto dizer-te, porém, que não são versos de Cláudio, o poeta; são simples palavras proferidas por Marcelo, teu filho mais moço...
Flaminius quedou um momento perplexo e replicou, esboçando um sorriso pálido:
— Aquele que se fez soldado?
— Sim — confirmou o Anjo, num tom de absoluta confiança —, aquele que se alistou nas legiões de César! Marcelo era um homem bom e caridoso: apiedava-se dos sofrimentos alheios; socorria os pobres; consolava os aflitos. Quando servia às ordens de Herodes, tetrarca da Galiléia, um dos seus servos adoeceu com uma grave paralisia. Marcelo, que nesse tempo, fora promovido; já era centurião. E todos os homens de sua centúria o estimavam.
Inspirado pela delicadeza de sua sensibilidade, cuidou Marcelo de acudir, com desvelo, ao servo enfermo. Todos os remédios, aconselhados por amigos e vizinhos, ele experimentara, sem resultado. Alguém sugeriu:
— “ Chefe! Por que não apelas para Jesus de Nazaré? Dizem que o Rabi faz milagres!”.
Marcelo era puro de coração e, muito embora fosse romano, acreditava naquele Rabi, cheio de simplicidade e candura, que sorria para as criancinhas e curava os enfermos com o simples estender suave de suas divinas mãos.
Não se atreveu, porém, a ir procurar Jesus e pediu a alguns israelitas que fossem em busca do Mestre, de cujo amparo o infeliz servo tanto necessitava.
Jesus, Nosso Senhor, com seus discípulos, dirigia-se para Cafarnaum, quando recebeu o pedido de dois anciãos, amigos de Marcelo. E disse aos que o acompanhavam.
— Irei até lá!
Quando o centurião romano foi informado de que Jesus de Nazaré, em pessoa, se dirigia para a sua morada, levantou-se imediatamente a passos rápidos seguido de alguns ajudantes e servos e foi ter, muito respeitoso, ao encontro do Mestre. E disse-lhe, com extrema humildade:
— Senhor! Eu não sou digno de que entreis em minha morada ( Domine, non sum dignus...) Basta que digais uma só palavra e, estou certo, meu servo estará para sempre curado!
E, como Cristo o fitasse surpreendido, ajuntou:
— Porque eu, Senhor, sou militar e sei muito bem o que é obedecer e o que é mandar! Estou sujeito à autoridade de meus chefes, e tenho soldados às minhas ordens! Digo a um : — “ Vai!” E ele segue o rumo que indiquei. Digo a outro: — “ Vem cá!” E ele se aproxima de mim! Basta, pois, Senhor, uma só palavra Vossa, e meu servo será salvo.
Ouvindo isto, Jesus se admirou; e, voltando-se para o povo que o seguia, disse:
— Em verdade, em verdade vos digo que nem em Israel achei tão grande fé.
E disse ao bom centurião:
— Vai, e faça-se como tu crês!
E, naquela mesma hora, ficou curado o servo!
Que restam dos versos famosos de Cláudio, o festejado poeta? Não! Os homens não se lembram mais das odes admiráveis que César elogiava e que os comediantes mais ilustres declamavam nos festins romanos.
Mas as palavras do bom soldado são repetidas todos os dias, com profunda veneração, por milhares de lábios humildes e orgulhosos!
— E por quê?
— Porque as palavras do poeta eram despidas de sinceridade, ao passo que as palavras do soldado foram proferidas com fé!
Escuta, meu filho, as palavras ditas com fé, para a salvação de uma alma, ficarão na lembrança dos homens per omnia soecula soeculorum!
Glória a Deus! Glória a Deus no mais alto dos céus e paz, na terra, aos homens de boa vontade!
Amém!
domingo, 22 de novembro de 2009
Fim de uma longa e adorável história
Enfim, com este capítulo, encerro Romeu e Julieta em prosa e versos. Creio que muitas vezes mais em prosa do que em versos, pois ainda me falta uma certa veia poética. Porém, escrevo esta mensagem para agradecer e compartilhar com todos a satisfação que senti ao reescrever este conto eterno e que até hoje, encanta gerações.
Foi uma experiência muito interessante e uma alegria imensa ao abrir o blog, a cada dia, e ver que o número de leitores só aumentava. Leitores não só do Brasil, mas do mundo todo.
Muitos sei que vão terminar de ler, ao mesmo tempo em que encerrei o conto, outros, ainda estão lendo e tenho certeza que muitos mais irão ainda ler. Assim, deixo registrado aqui o meu agradecimento aos leitores que me acompanharam, me acompanham e que ainda me acompanharão, e sem o incentivo de vocês, que estavam sempre presentes e me prestigiando, isto não teria sido possível. Um forte abraço a todos e espero, em breve, trazer mais histórias como essa para compartilhar com vocês, meus grandes amigos.
att:
Paula Dunguel
Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Sepultados no Amor"- final"
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Sepultados no Amor"- parte3"
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Mensagem Especial: aos amigos que prestigiam este blog
Cometas e Estrelas
Há pessoas estrelas e pessoas cometas.
Cometas passam, são lembrados apenas pelas datas
em que surgem e retornam.
Muitas pessoas são como os cometas;
passam pela vida da gente sem iluminar, sem aquecer
e sem marcar presença.
O indivíduo cometa não sabe ser amigo, quando
muito, é companheiro por instantes.
Ele costuma explorar os sentimentos e aproveitar-se
das pessoas e situações.
Faz acreditar e desacreditar ao mesmo tempo.
Importante é ser estrela.
Amigos, são estrelas
na vida da gente.
Pode-se contar com eles.
Os anos passam, surgem as distâncias, mas a marca
fica no coração.
É preciso criar um mundo
de estrelas.
E todos os dias poder ver sua luz
e contar com elas.
Ser estrela neste mundo passageiro, cheio de
pessoas cometas, é um desafio, mas acima de
tudo, uma recompensa.
É nascer e viver, e não apenas existir.
Autor desconhecido
*Vocês são minhas estrelas!!!!
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Sepultados no Amor"- parte 2"
Romeu aproximou-se dos dois corpos e o primeiro a ver foi o de Teobaldo. Ele contemplou-o por uns instantes e sentiu novamente o remorso a oprimir-lhe o coração.
— Teobaldo... agora jazes em um lençol de sangue. Oh, que maior favor fazer-te posso? Do que com esta mesma mão que a tua mocidade cortou, destruir, agora, a do que foi teu inimigo? Primo perdoa-me...
Romeu permite-se chorar um pouco por Teobaldo, antes de aproximar-se de Julieta.
— Ah, querida esposa... a insígnia da beleza em teus lábios e nas faces ainda está carmesim, não tendo feito progresso o pálido pendão da morte — emociona-se ao ver o corpo tão adorado, agora inerte. Leva a mão à face de Julieta e faz-lhe uma carícia. As lágrimas correm-lhe na face. — Ó, meu amor. Querida esposa. A morte que sugou todo o mel de teu hálito poder não teve sobre tua formosura. Oh, Julieta! Por que ainda és tão formosa?
Romeu desaba de vez e abraçando-a, enterra o rosto nos cabelos negros e sedosos. Soluços de lamento ecoam pela câmara deserta.
— Permitirei eu, que esse monstro magro e horrível, a que chamamos de morte, como amante nas trevas a conserve? — continua ele. —Não, meu amor... jamais... Com medo disso, ficarei contigo, sem nunca mais deixar os aposentos da tenebrosa noite; aqui desejo permanecer, com os vermes, teus serventes! — suspira ele contendo um pouco o choro. — Aqui sim, aqui mesmo, fixar quero meu repouso eterno.
Romeu leva a mão à pequena bolsa que trazia na cintura e retira o veneno. Contempla o líquido mortal por um instante.
— Vem, condutor amargo! Vem meu guia de gosto repugnante! Olhos... vede vossa esposa mais uma vez; será a última. Braços, permiti-vos um último abraço...
Romeu abraça Julieta.
— E lábios, que sois a porta do hálito, com um beijo legítimo selai este contrato.
Beija-a. O último e derradeiro beijo de despedida, antes de beber o veneno.
— Eis para meu amor...
Romeu bebe de um só gole e logo sente o líquido descer e queimar sua garganta. O gosto era horrível. Poucos instantes depois, já sofre os efeitos da peçonha. O corpo ficou trêmulo e o ar, começou a faltar-lhe e por fim, sentiu que perderia os sentidos. A Morte estava cada vez mais próxima.
— Ó, boticário veraz e honesto! Tua droga é rápida... Julieta...
Romeu beija-lhe as mãos e cai sobre a amada. O coração dele deu um salto e parou, seus olhos escureceram e sua vida o deixara.
Na mesma hora, Frei Lourenço chegava no cemitério. Vinha munido de lanterna, alavanca e uma pá.
— São Francisco me ajude! Quantas vezes esta noite, meus pés enfraquecidos tropeçaram em túmulos? — reclamava ele.
— Oh, Frei Lourenço! — uma voz o chama.
O frade se assusta.
— Ai Jesus!!! O que...
— Sou eu frei, Baltazar!
— Baltazar?! Oh, Deus do céu, não me assuste assim! Mas o que faz aqui?
— Vim com Romeu.
— Romeu?! Mas como... — o frade se espanta
— Oh, Frei Lourenço! Que bom vê-lo! Convença o louco a sair de lá!
— De lá onde?
— Do túmulo dos Capuletos. Ficou tão desvairado com a morte da esposa, que temo que esteja disposto a fazer algo muito ruim.
— Ai, não! Há quanto tempo ele está lá?
— Há cerca de meia hora.
— Santo Deus! Já começo a sentir medo! Receio algum caso desastrado! Vem comigo até o túmulo.
— Não ouso, senhor! Ele soprou-me ameaças sem conta, caso o interrompesse! Ameaçou-me até de morte!
— Então irei só. Oh, Romeu, não faça nada precipitado!
Frei Lourenço entra no túmulo e depara-se com o primeiro corpo. Ao sentir que tropeçara em algo, aproxima a lanterna e descobre o Conde Páris assassinado, trespassado por uma espada.
— Eu não acredito! É o Conde Páris!!!
O frade ficou sem ação, não esperava que o acontecimento fosse trazer desgraça de tamanha proporção.
— Oh, dor! Romeu!!! — chama-o desesperado. — Você está aí, Romeu? É Frei Lourenço quem chama! Olá!!!
Frei Lourenço entra na câmara funesta e depara-se com Romeu debruçado sobre Julieta, como se chorasse...
— Oh, meu filho... que bom que...
O religioso engole as palavras; Romeu parecia imóvel demais para alguém que estivesse em prantos.
— Oh, não! Romeu fale comigo! — o frade se desespera.
Frei Lourenço tenta reanimá-lo, mas em vão.
— Está morto!!!! Jesus, Maria e José! Julieta irá acordar a qualquer instante...
continua...
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Sepultados no Amor - parte1"
domingo, 27 de setembro de 2009
Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Pacto Mortal - parte4"
sábado, 29 de agosto de 2009
Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Pacto Mortal - parte 3"
Logo a notícia da morte de Julieta correu toda a cidade, chegando aos ouvidos de Frei Lourenço...
— Perfeito Julieta! Agora seguirei o plano...
...E também, aos ouvidos de uma criada da casa montecchia, que fazia a feira na praça do mercado.
— Vocês não vão acreditar!!!!! Valha-me Deus! Tão moça! Pobre menina, a Julieta!
— O que tem a Julieta? — pergunta a mãe de Romeu curiosa.
— Morreu! Foi encontrada morta na cama esta manhã! — fala a criada
—Deus meu! — espantou-se o pai de Romeu. — Não era ela que iria casar-se hoje e que, por tal motivo, o orgulhoso Capuleto espalhava a nova, já que a filha iria desposar o nobre conde, parente do Príncipe?
— Sim! Sim! Mas corre pela cidade, espantem-se vós, que ela se matou para não casar-se com o tal do Conde Páris.
— Como?! Um tão alto partido como este! Qual moça não gostaria de casar-se com ele? — Chiara Montecchio não conseguia compreender.
Baltazar passava na hora e ouviu tudo.
— O quê?! Essa não! Quando o meu senhor Romeu souber... e ele tem que saber! Partirei à Mântua para avisá-lo...
E Baltazar não perdeu tempo, selou seu cavalo e partiu a todo galope.
Na cela de Frei Lourenço, ele acabara de escrever a carta e ia entregá-la a Baltazar para que levasse a Romeu, mas quando chegou na casa dos Montecchios não encontrou-o, restou pedir a um irmão de sua Ordem, de nome João, que a levasse, pois Romeu precisava ser avisado do plano.
-->— Vá até a casa de meu irmão Estevão e entregue esta carta ao jovem Romeu.
— Sim, pode deixar meu irmão...
João pegou seu burrico e saiu do convento.
Frei Lourenço, então, tratou de ir à casa de Capuleto, para consolar a família. Lá chegando, a comoção era geral, muitos ainda não acreditavam na morte da menina. O frade chegou fingindo ainda nada saber.
— E então! A noiva já está pronta? — fala a Capuleto.
— Sim, para ir à igreja, sem que nunca possa de lá voltar — fala Capuleto amargurado. — Oh, filho Páris, a morte, na véspera do dia de tuas núpcias, deitou-se com tua noiva. Morrer quero, para levar à morte o que possuo: vida, bens; tudo é dela.
— Quis tanto ver a face deste dia, para enfim, contemplar este espetáculo? — falava Páris inconformado.
— Dia infeliz, maldito, desgraçado! — praguejava a mãe de Julieta. — A hora mais triste que já viu o tempo em toda a sua peregrinação comprida e laboriosa. Uma só filha, uma só, pobre filha, e tão amada. Para gozo e consolo, um ser apenas nos foi dado e a cruel morte nos apresenta este fardo... arrancada assim da vista, em plena flor da idade!
— Oh, dia triste! Oh, dia triste! Oh, dor! O dia mais escuro e lamentável que eu vi em toda a minha vida! Nunca vi dia de tão densas trevas! — lamentava-se o pai da morta.
— Morte odiosa, ludibriado por ti, cruel morte! Arruinado de todo! — ainda queixando-se o noivo de Julieta.
— Oh, tempo! Por que motivo vieste agora matar, matar nossa solenidade? Oh, filha mia! Alma querida! Já não vives! Morreste! Ah, minha filha já não vive e, com ela, sepultada vai ser minha alegria! — encerra Capuleto às lágrimas.
— Calma, peço-vos; a cura da desordem, vir não pode da desorientação. Tal como vós, tinha o céu parte nesta bela criança. Agora o céu tem tudo, o que é, por certo, melhor para a donzela. O céu, agora, dará sua parte, oferecendo-lhe a vida eterna. Amais de fato vossa filha que vos desesperais por sabê-la tão bem? Interrompei o pranto; sobre o belo corpo espalhai bastante rosmaninho e, tal como é de praxe, em suas vestes mais vistosas levai-o para a igreja, embora chorar mande a natureza. Consolai-vos senhores e que seja aceita a vontade de Deus...
— Tudo o que havia para o festival usado ora vai ser no funeral — lastima-se o pai.
— Vamos, que todos se preparem para o belo corpo levar à tumba. Porventura o céu vos pune por qualquer maldade; não o irriteis, pois essa é a sua vontade.
Todos obedecem os conselhos do padre e retiram-se para prepararem os funerais.
Continua...