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Pelo mundo

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Sepultados no Amor - parte1"


Já era noite, quando duas figuras misteriosas atravessam os portões do cemitério.
— Dá-me a tocha, rapaz, e fica à parte. Não, apaga-a; não quero que me vejam. Aguardai-me abaixo do cipestre e fica atento. Assim, se notares a presença de alguém chegando, sem que o perceba, deves assobiar-me.
— Senhor Páris, por que estás fazendo isso? Não me agrada ficar aqui fora sozinho... — fala o criado temeroso.
— Oras, covarde! Deixai de lamúrias, dê-me as flores e faze o que te disse!
O criado sai a resmungar.
— Sinto um pouco de medo, por me ver no cemitério, mas que seja! Hunf!
Páris se aproxima da porta do mausoléu.
— Minha querida flor, espalharei flores em teu leito. De pedras frias é o dossel, mas à noite, com água, trarei irrigadores ou o pranto amargo de meu fado cruel e prometo-vos, querida Julieta, que flores hão de nascer em tua sepultura...
O pajem à parte ouve passos e assobia.
— Vem gente! Que pé maldito pisa estes caminhos durante a noite, para perturbar-me nos funerais e ritos do amor puro?
Páris se esconde atrás da lápide do túmulo mais próximo, desembainha a espada e fica de tocaia.
— Romeu! Vede o que vai fazer! — criticava-lhe Baltazar.
"Romeu?! Não foi este que matou o primo de Julieta?"— lembra-se Páris.
— Dá-me o ferro e o enxadão e toma esta carta. Logo que amanhecer tens de entregá-la ao meu senhor e pai. Agora, a tocha! Por tua vida, te exorto: embora vejas e ouças seja o que for, fica à parte. Se ora desço a este leito de morte, em parte é apenas para o rosto ainda ver de minha esposa Julieta... — mente Romeu para tranqüilizar o criado. —Logo sairei...
"Esposa?! — espanta-se Páris. — Mas o que este infame está dizendo?"
— Mas se acaso... — continua Romeu. — só por curiosidade retornares para espiar o que pretendo fazer: Pelo Céu o juro! Quebrar-te-ei os ossos! — ameaça ele. — Meus intuitos a esta hora são selvagens, mais violentos e inexoráveis ainda do que o tigre faminto e o mar revolto!
Baltazar engole em seco.
— Vou-me embora, senhor, sem vos atrapalhar em nada.
Romeu sorri para o criado e pega o restante de dinheiro que ainda tinha.
— Assim, me provarás tua amizade. Toma isto para ti; vive e prospera. E agora, bom amigo, passa bem.
Baltazar não conseguiu entender aquela atitude e queria recusar o dinheiro, mas Romeu insistiu e ele fez de conta que aceitou a oferta. Baltazar afastou-se.
— Mas apesar de tudo, vou esconder-me por aqui mesmo. Não confio nele e temo o seu olhar.
— Matriz da morte... — fala Romeu ao abrir o túmulo e suspira pesaroso. — Detestável maxila, assim te forço os maxilares podres e te obrigo a aceitar mais alimento.
Romeu entra no mausoléu e nem percebera que não estava só. Páris seguiu atrás dele.
"Este é o Montecchio altivo, que banido foi, por ter morto o primo de Julieta, por cuja dor a morrer veio aquela criatura incomparável..."—pensava Páris indignado enquanto o seguia. — "Vou prendê-lo..."
Romeu chegou à câmara dos cadáveres depois de descer uma longa escada. Estreitou os olhos pela escuridão e tentava encontrar o corpo de Julieta. Ao levantar um pouco a tocha, viu que dois cadáveres estavam ainda com as mortalhas novas e limpas; logo, Romeu reconhecera que um deles deveria ser Teobaldo e o outro, provavelmente seria Julieta. Quando ele ia dar o primeiro passo na direção deles, Páris o surpreendeu.
Interrompe teu maldito trabalho, vil Montecchio! Estás preso, banido desprezível! Obedece e me segue; morrer deves!
Romeu assusta-se e vira-se, mas passado o susto, tenta argumentar com o homem que o interpelava.
—Devo morrer é fato, foi por isso que vim. Mancebo generoso, tentar não queiras um desesperado. Foge daqui e deixa-me; reflete nestes mortos e que eles te amedrontem. Suplico-te, senhor, não me faças arcar com o peso de mais um pecado, pois aqui vim contra mim próprio armado...
Importância não dou ao teu pedido — Páris empunha a espada. — e prendo-te por seres criminoso!
Queres me provocar? Então defenda-te!
Romeu saca sua espada e bate-se com Páris, matando-o em curto espaço de tempo. Páris cai encharcado de sangue e só teve tempo de proferir algumas maldições antes de morrer. Romeu aproximou a tocha para ver a quem tinha ferido.
— Conde Páris?! Deus do Céu! Não era com ele que Julieta iria casar-se? Oh, pobre mortal, que tanto quanto eu, o nome foi inscrito no livro do infortúnio!
Romeu sentiu pena do homem, não tinha a intenção de matar mais ninguém, só queria levantar a mão contra ele próprio, mas infelizmente, disposto a tudo como estava, ele não teve outra escolha. Ou matava, ou seria preso e o seu intuito estaria ameaçado.
Redimido pelos próprios pensamentos, seguiu em frente.
O servo de Páris, preocupado, seguiu o amo e vira toda a cena. Romeu não percebera-lhe a presença e ele, muito assustado com o que testemunhara, foi procurar socorro.
Continua...

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