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Pelo mundo

domingo, 27 de setembro de 2009

Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Pacto Mortal - parte4"



O cavalo levanta a poeira da estrada, assusta um rebanho de ovelhas que por ali pastoreavam. Quantos quilômetros ainda restavam? Cinco, dez? Baltazar não sabia dizer, só o que conseguia pensar era como dar a notícia a Romeu e no estrago que aquela fúnebre nova faria ao seu coração. Desde que o vira pela última vez, quando partira para Mântua, Romeu estava cheio de planos e com novas esperanças. A tristeza da véspera, após a derradeira luta com Teobaldo, havia se dissipado após receber o perdão de Julieta e ele conseguira se acalmar.
“Pobre amo!” — era só o que Baltazar conseguia pensar.
Enquanto isso, onde morava o irmão de Frei Lourenço, Romeu ocupava o quarto de hóspedes nos fundos da casa.
Estevão o recebera muito bem, como um pai receberia seu próprio filho. Romeu não tinha do que reclamar; estava seguro, tinha onde repousar e onde alimentar-se. A única coisa que o incomodava era o ócio de esperar para voltar à sua cidade. “Deus permita que o Príncipe Escalo logo tenha compaixão de mim e permita o meu regresso. Frei Lourenço prometeu-me que intercederia por mim, alegando ao príncipe que levasse em consideração que eu era arrimo de família, e que meus pais, já de idade avançada, precisavam de mim. Espero que ele logo considere o meu caso e me permita voltar à Verona...” — pedia Romeu em suas orações.
O dia de Romeu resumia-se a sentar-se em frente à porta, aguardando notícias.
“Os sonhos me dizem que está iminente alguma alegre nova...” — pensava esperançoso. — “Sonhei que meu amor havia chegado e me encontrara morto, mas com beijos, tal vida me insuflava, que eu revivia e Imperador me tornava...”
Assim, com risonhas imagens, um espírito desconhecido o erguia do chão duro.
Romeu houve um cavalo relinchar e despertando do devaneio, como se desperta de um sonho, reconhece Baltazar.
Baltazar!!! Meu amigo! Notícias de Verona? Frei Lourenço mandou carta? — dizia-lhe Romeu, bombardeando-lhe de perguntas. — Meus pais estão bem? E Julieta? Minha Julieta, como a deixaste? Nada irá mal, se bem ela estiver...
— Em sua casa todos estão bem, quanto à Julieta... — ele faz uma pausa e respira fundo. — Creio que ela está bem, nada está mal. Talvez ela esteja melhor do que nós, que ainda vivemos a penar por este mundo.
Romeu não compreendera. Baltazar não estava dizendo coisa com coisa, as palavras não faziam sentido. O fato é que Baltazar não sabia como começar...
— Como assim? Ou ela está bem ou não está! Que quereis dizer-me com palavras sem nexo e tão confusas?
— Ela... — Baltazar não conseguiu mais conter as lágrimas. — Seu corpo em breve estará dormindo no sepulcro dos Capuletos e a imortal essência, vive agora entre os anjos.
Q-QUÊ?! Ficaste louco?
— Antes fosse, meu senhor. Mas é a verdade...
Romeu perde as cores.
O-O que dizeis?! Isto é um absurdo!!!! — Romeu revolta-se. — Não é verdade! Por favor, Baltazar! Diga que está mentindo!!! — fala às lágrimas.
— Eu jamais mentiria para vós em um assunto tão sério desses! Não se fala em outra coisa na cidade e ainda estão dizendo, pior! Corre em toda Verona que ela se matou, para não casar-se com Páris!
— Páris?!
— Sim, os pais queriam forçá-la a casar-se...
Basta Baltazar! Chega! Não quero ouvir mais nada! Agora tudo faz sentido... Oh, Julieta, por quê?
Romeu era só amarguras e suas lágrimas, caem copiosas sobre o seu peito partido. Baltazar queria acalmá-lo, mas nada do que dissesse o teria consolado. Em questão de dois dias, seus sonhos desmoronaram.
— Perdoe-me, senhor, por trazer-vos tais notícias, mas deste-me esta incumbência...
— Está tudo acabado... Vai buscar-me papel e tinta com Dom Estevão, preciso escrever...
— O que vai fazer?
— Vou voltar.
Mas não podeis, senhor! Serias preso e morto...
— Nada mais importa!
— Senhor revesti-vos de paciência, vos peço!
Romeu empurrou-o revoltado.
Isso é uma ordem! E depois que me trouxeres o que pedi, saia e alugue-me um cavalo!
— Tendes pálidas as feições e desvairadas, pressagiando desgraça!
Enganai-vos! Nunca estive mais lúcido em toda a minha vida!
— Mas senhor...
Romeu aponta-lhe o dedo ameaçador...
— Ouça bem! Nem as estrelas, nem o firmamento e nem mesmo o próprio Deus me impedirá de vê-la a última vez, então, nem mesmo você!
Romeu agarra Baltazar, entrega-lhe umas moedas e força-o a tomar o rumo da casa de Estevão.
— Traga-me papel e tinta e em seguida, saia para providenciar-me o cavalo que pedi, enquanto isso, resolverei outras coisas por aqui. Quero voltar à Verona ainda hoje e chegarei lá à noite.
Muito a contragosto, Baltazar faz o que o amo lhe pede.
“Sei que existe um boticário aqui perto...”— recorda-se Romeu.
Depois que Romeu escreveu a carta, aproveitou-se da ausência do servo, enquanto este foi cumprir sua segunda ordem dada e saiu. Não demorou muito, ele estava diante da porta do Boticário que vivia nas redondezas.
“Bem, Julieta... deitar-me-ei ao teu lado ainda esta noite. Procuremos os meios...” — pensa o jovem batendo à porta do recinto, que estava fechada por ser feriado.
— Boticário! — chama ele.
“Está proibido o comércio de venenos em Mântua, mas vivendo este sujeito, na grande miséria em que vive, acabará por vender-me um frasco por uma boa oferta...” — idealizara Romeu e chamou-o outra vez.
O homem por fim atendeu-o, após tanta insistência. Logo surgiu à porta um velho de avançada idade, o rosto esquálido, bem maltrapilho, cujo corpo havia sido ruído até os ossos pela miséria.
— Quem me chama com tanta força?
— Bons dias amigo. Vejo que és pobre; então toma estes quarenta ducados, mas arranja-me uma dracma de veneno, mas droga tão violenta que tão veloz se espalhe pelas veias e que a pessoa, cansada desta vida, bebendo-a, caia morta.
O homem olhou espantado para o montante, era muito dinheiro. Nem com um ano de vendas, chegaria a juntar tudo aquilo.
— Possuo esse veneno perigoso; porém as leis de Mântua, morte certa cominam, para quantos o venderem...
— Esse mundo é tão cheio de misérias, e a morte ainda receias? — comenta Romeu amargurado. — Tens a fome nas faces, as angústias e o infortúnio dos pesares. Em todo o mundo não há uma lei para deixar-te rico. Não sejas receoso, então; passa por cima da lei e toma isso. Nosso trato jamais será revelado...
O velho abriu um sorriso podre e enviesado, ao mesmo tempo que um brilho de ganância lampejou em seus olhos.
— Minha pobreza aceita o que me dás, mas não a vontade.
— Não estou pagando a sua vontade, mas a sua pobreza.
— Muito bem... entre.
O homem foi até um armário do seu comércio e retirou um frasco escondido, onde haviam outros iguais.
— Tome. Ponde isto em qualquer líquido que tomando-o, embora a resistência possuirdes de vinte homens, caireis de pronto morto.
— Obrigado, senhor — agradece Romeu ao pegar o frasco que o homem lhe oferecia. — Com o dinheiro pago, compre alimentos e engorda um pouco mais. — brinca ele saindo logo em seguida.

Em Verona, Julieta já estava sepultada e a família carpindo a tristeza. Ao cair da tarde, Frei João regressou de Mântua e procurava por Frei Lourenço desesperado.
Santo irmão franciscano!!! Olá irmão Lourenço!!!
Frei Lourenço interrompeu suas orações e foi até ele.
Ó tu, que vens de Mântua! Sê bem-vindo irmão João! Romeu que disse?
— Como não conhecia bem a cidade, fui procurar um frade de nossa ordem que conhece as ruas de Mântua e que visita os doentes de lá, para que fosse comigo, mas os guardas da cidade, pensando que tivéssemos saído de uma casa onde a infecciosa peste domina, nos obrigaram a entrar na casa e as portas logo fecharam, não deixando que saíssemos, com isso, minha pressa de ir ter com Romeu, foi adiada.
— E quem levou a carta para Romeu?
— Não pude remetê-la, ei-la aqui outra vez. Tentei achar um portador para levá-la, mas tanto medo têm as pessoas da infecção...
— Quanta falta de sorte, meu Deus! — preocupa-se Lourenço. — Por São Francisco, essa carta não é sem importância, mas de peso e conteúdo muito grave. O atraso pode ter conseqüências muito sérias. Frei João, vai bem depressa buscar algo que me sirva de alavanca, um pé-de-cabra; o aguardarei na cela.
—Pois não, irmão.
O frade sai, deixando Frei Lourenço a sós com seus pensamentos.
— Agora tenho de ir sozinho ao túmulo. Dentro de três horas, vai a bela Julieta despertar e vai maldizer-me porque Romeu ficou sem ter notícias dela. Mas para Mântua escreverei de novo e a deixarei escondida em minha cela, até que possa Romeu chegar aqui.
Continua...

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