Quem sou eu

Minha foto
Desejam falar comigo? *Escrevam seus comentários, que assim que puder, entrarei em contato. Eu não uso outlook.

Pelo mundo

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Capítulo 5


Psique olhou em volta e incomodou-se com aquele estado lastimável de abandono e resolveu arrumar o lugar, pois não se conformava em ver um templo dedicado à uma deusa, tão sujo e desorganizado. Nisso, Deméter sentiu-se grata pela sua demonstração de devoção, ao arrumar e limpar o templo e apiedou-se da sorte da infeliz criatura. Desesperada e conhecendo a dor de seu coração, Démeter resolveu ajudá-la e do nada, surgiu à frente de Psique, assustando-a.
— Não temas, minha criança! — disse a deusa de forma carinhosa.
(Psique ao reconhecê-la, prostra-se por terra).
— Oh, doce Psique! Em verdade digna de nossa piedade, embora eu não possa proteger-te contra a má-vontade de Afrodite, mas posso ensinar-te o melhor meio de evitar desagradá-la. Vai e voluntariamente rende-te à tua deusa e soberana e trata de conseguir-lhe o perdão pela modéstia e submissão, e talvez ela te restitua o marido que perdeste.
Psique obedeceu prontamente e dirigiu-se ao templo mais próximo de Afrodite, onde invocou a divindade irritada. Durante o caminho, tentou fortalecer o espírito, imaginando o que iria dizer-lhe para apaziguar-lhe a fúria, compreendendo que o caso era difícil e talvez fatal, mas talvez fosse o único jeito de reconquistar o seu amor.
(Afrodite aparece diante de Psique ao responder à invocação e ao ver quem era, recebeu-a com grande ira estampada na fisionomia).
— Ah, não...Eu não acredito! Logo Tu, a mais ingrata e infiel das servas, vens a mim? — pergunta a deusa.
— Oh, poderosa Afrodite! Reconheço que despertei tua fúria pela arrogância de deixar-me chamar de Afrodite encarnada, e por isso, venho a ti para prostrar-me humildemente e receber de bom grado, qualquer pena que queiras impor-me. Coloco-me em tuas mãos, para que faças o que mais te aprouver, senhora da beleza indizível! — disse Psique de forma humilde.
(Afrodite sente-se balançar por aquelas palavras, porém, negava-se a perdoá-la e aproveita para humilhá-la ainda mais).
— Ora! — ri a deusa de forma debochada. — Lembraste afinal que tens realmente uma senhora? Ou talvez, vieste para ver teu marido enfermo, ainda prostrado no leito em conseqüência da ferida que lhe causou a amada esposa?
— Bondosa Afrodite! — exclama ela preocupada. — Permita-me vê-lo!
— De modo algum! Jamais! Tu não mereces vê-lo; não depois de tudo que fez.
— Oh, por Zeus! Rogo-vos piedade, poderosa Afrodite! Eu não fiz por mal... eu amo vosso filho...
— Eu não acredito em teus sentimentos por Eros, a menos que me proves o contrário.
— Pois então me diga: o que posso fazer para provar que digo a verdade? Que o sentimento do meu coração é sincero? — pede-lhe às lágrimas.
— És tão pouco favorecida e tão desagradável, que o único meio pelo qual podes merecer teu amante é a prova de indústria e diligência. Farei uma experiência de tua capacidade como dona de casa. — Afrodite pensa um pouco e ri de forma triunfal. — Vá ao celeiro de meu templo e separe as sementes; cada qual com suas características e de acordo com a categoria a qual pertencem: feijões com feijões, ervilhas com ervilhas, e assim por diante...
— Só isso? — fala Psique animada. — Isto vai ser fácil!
— Fará isso durante a noite e pela manhã, quero ver tudo separado, tal como ordenei.
— E deixarás ver meu senhor depois disso?
— Talvez... — diz a deusa de forma enigmática.
Psique, cheia de esperança, corre ao templo... mas depara-se com uma tremenda e injusta armadilha. Ao invés das sementes estarem dispostas em sacos, elas estavam todas fora dos alforjes e espalhadas por todo o templo; eram montes e mais montes de sementes diferentes, misturadas entre si. Milhares delas. Psique soltou um grito de indignação e ouviu a risada irritante de Afrodite quando esta apareceu diante dela.
— Sua tola! Pensaste que seria fácil?!
— Eu preciso mais de uma noite para separá-las todas, minha senhora!
— Uma noite, Psique. Nem mais, nem menos... — sentenciou a deusa implacável e desapareceu.
Psique começou a chorar. Não sabia nem por onde começar diante de tanto trabalho e tão pouco tempo para que este fosse feito.
— Nunca mais verei meu amor... estou perdida... — desespera-se a jovem.
Zéfiro, que tudo vê, ouviu o choro distante e, aproximando-se suavemente, reconheceu quem era. Morrendo de pena, dirigiu-se à bela jovem e Psique, contou-lhe o seu tormento e a ira implacável da deusa do amor.
— Pobre Psique! É impossível para ti tal feito!
— Ela quer me separar de Eros para sempre, Zéfiro...
— Aquieta-te, minha criança. Tentarei ajudar-te de algum modo...
Zéfiro foi até Eros e contou-lhe o que estava se passando. Eros ficou muito revoltado.
— Como minha mãe ousa fazer tal coisa? Psique não é deusa para fazer tudo em uma noite! Minha mãe já está passando dos limites!
— Por isso, achei por bem contar-lhe.
— Fizeste bem meu amigo. Eu vou ajudá-la; mas minha mãe não pode saber.
Zéfiro sentiu que um vigor inesperado apoderou-se de Eros. Como se ele tivesse renascido das cinzas da tristeza. A vontade de ajudar e o amor por Psique — ainda mais sabendo que ela veio procurá-lo e estava disposta a provar os sentimentos por ele — fizeram-lhe recuperar as antigas cores e sua alegria.
Psique continuava desesperada e olhando alucinada para o alto monte de cereais à sua frente, quando apareceu uma formiga solitária e pegou a primeira semente. Minutos depois, outras mais surgiram e começaram a trabalhar. Diligentemente elas começaram a separar grão por grão. Psique admirou-se com aquilo e queria entender o que estava acontecendo, logo; milhares delas aproximaram-se do montão de cereais e separaram cada qual de acordo com sua qualidade.
Quando amanheceu e Afrodite foi ver o resultado da prova imposta à Psique, ficou boquiaberta. Em uma noite, a jovem havia separado tudo tal como lhe ordenara.
— Não é possível! Isto está muito mal contado!
— Posso ver meu senhor, agora? Cumpri o que me pediste...
(Afrodite encara-a)
— Não. Ainda é cedo para isso, querida.
— Mas tu prometeste... —argumenta a moça.
— Eu não prometi nada. Disse-lhe “talvez”... Eu preciso de mais provas, pois fazer isto em uma noite é impossível aos mortais. Isto não foi obra tua, desgraçada, mas daquele que conquistaste para seu infortúnio e para o teu!
— Eros não teve nada com isso! Fiz tudo sozinha!
— Veremos, minha cara!
(Afrodite desaparece e surge diante de Eros).
— Traidor! Ajudaste a tola mortal! Aposto!!! — acusa-o.
— Ajudei-a sim! Impuseste-lhe uma prova muito injusta, minha mãe! — retruca o deus.
— Ora! Achaste injusta tal prova?! Pois irei dar-lhe uma prova muito pior pela tua insolência!
— Não faça isso mãe! — pede-lhe o filho.
— Sim o farei! E se ousares ajudá-la outra vez, vou matá-la para que não fiques com ela!
Quando a mãe sai Eros invoca Zéfiro.
— Chamou, meu caro Eros? — o vento-oeste percebeu a aflição do jovem deus. — Por Zeus! Estás pálido...
— Zéfiro, ajude-me! Minha mãe quer castigar Psique com provas impossíveis aos mortais e eu não posso mais ajudá-la, porque ela ameaçou matar Psique se eu o fizer...
— Nossa! Tua mãe é terrível! Pelos deuses! O que faremos?
— Os deuses! É isso! Zéfiro, por favor, peça a ajuda dos deuses por mim! Fale com Atena, Apolo, sei lá! Fale com aqueles que estão preocupados com a situação do mundo!
— SIM! Eu vou! Precisamos por um fim nisso!
(Zéfiro parte...).
Na manhã seguinte, Afrodite chamou Psique e disse-lhe:
— Olha para aquele bosque que se estende à margem do rio. Ali encontrarás carneiros pastando sem um pastor, cobertos de lã brilhante como ouro. Vai buscar-me uma amostra grande daquela lã preciosa colhida de cada um dos velocinos. Quero fazer para mim uma bela túnica dourada. Ficarei linda! — diz-lhe a deusa mirando-se no seu espelho e admirando sua beleza.
Psique afasta-se e Afrodite olha-a pelas costas com um ar de triunfo nos lábios.
—“Minha cara, princesa... não sabes o que te esperas...”
Docilmente, Psique dirige-se ao rio pensando: “perto da primeira prova, isto vai ser fácil...”.
O rio deus, porém, impediu-a, mostrando-se revolto e assim, não permitir sua passagem.
— Oh, donzela duramente experimentada! Não desafies a corrente perigosa... — surge o deus das águas cristalinas, assustando-a. Psique cai por terra e prostra-se.
— Oh, por favor, deus do rio! Eu preciso agradar minha senhora, para que ela me devolva o meu amor! Não impeças minha passagem!
— Também peço-te que não te aventures entre os formidáveis carneiros da outra margem, pois se trata de uma armadilha de Afrodite.
— Armadilha? — gagueja a jovem. — São apenas uns dóceis carneiros...
— Não se deixe enganar pela aparente doçura deles. Eles são carnívoros e enquanto estiverem sob a influencia do sol nascente, são dominados por uma raiva cruel, de destruir os mortais com seus chifres aguçados ou seus rudes dentes!
— QUÊ?! — espanta-se Psique.— Pelos deuses! Ela quer me matar!!! — diz Psique tremendo e sentindo faltar-lhe a força das pernas com o inesperado aviso.
— Quando, porém, o sol do meio-dia tiver levado o rebanho para a sombra e o meu espírito sereno o tiver acalentado para descansar, podes atravessar entre eles sem perigo e encontrarás lã de ouro suficiente, nas moitas de arbustos e nos troncos das árvores. — adverte-lhe o deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário