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Pelo mundo

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Capítulo 6


Assim, o bondoso rio-deus ensinou-lhe o que deveria fazer para executar sua tarefa e, seguindo as instruções, ela em breve voltou para junto da deusa com os braços cheios de lã de ouro. Afrodite ficou surpresa...
— Aqui está a lã que me pediste, senhora.
— Como? Como conseguiste?!! — fala a deusa incrédula.
— Posso ver Eros agora?
(Afrodite encara a jovem com um ar de ira e foi implacável ao responder-lhe a pergunta).
— De modo algum! Não o verás tão cedo, minha cara! Não, enquanto não convencer-me dos teus sentimentos por meu filho.
— Mas... eu cumpri a prova, contudo, parece que minha senhora não quer cumprir com sua palavra...
— Como ousas, insolente?!!
Psique encolheu-se diante da fúria da deusa e pediu perdão pelo o que disse...
— Perdão, poderosa Afrodite! Eu não falei por mal! Perdoe-me! — diz a jovem às lágrimas.
Afrodite sentiu-se a toda-poderosa, diante da fragilidade da jovem, e humilhou-a com palavras infames e severas. Acrescentando depois...
— Sei muito bem que não foi por teu próprio esforço que foste bem sucedida na prova, e ainda não estou convencida de que tenhas capacidade para executares sozinha uma tarefa útil. Não permitirei que te aproximes de meu filho...
(A deusa fez uma pausa e, estendendo suas mãos, fez surgir do nada uma caixa).
— Toma esta caixa e vai às sombras infernais e entrega-a à Perséfone, dizendo: “ minha senhora Afrodite quer que lhe mandes um pouco de tua beleza, pois, tratando de seu filho enfermo, ela perdeu alguma da sua própria.” Não demores a executar o encargo, pois preciso disso para aparecer na reunião dos deuses e deusas, que Zeus convocou para esta noite.
— O quê?!! Queres que eu vá às regiões infernais? Mas eu não posso! Só os mortos que...
— É mesmo... Bom... se não tem outro jeito... MATE-SE! — desafia Afrodite. — Prove o seu amor por meu filho; renuncie à sua própria vida e acreditarei nos teus sentimentos por ele. Se cumprires sem temor esta prova, posso pensar em abençoá-los e com isso, ressuscitá-la se for do meu agrado. Será a sua última prova.
(Psique olha-a incrédula e aflita).
— É pegar ou largar, querida! — debocha ela.
(Psique, recobrando a coragem, pega a caixa das mãos da deusa e sai).
Afrodite riu de forma cruel.
— Que maravilha! Vou livrar-me desta tola para sempre!
Psique ficou certa de que sua perda era, agora, inevitável, obrigada a ir com seus próprios pés diretamente ao Érebo. Jamais veria o seu amor, pois nenhum ser humano voltava do reino dos mortos. Somente os deuses e semi-deuses iam e vinham de lá, sem sofrer qualquer fatalidade.
Assim, para não adiar o inevitável, dirigiu-se ao alto de uma elevada torre e de lá, iria precipitar-se de maneira a tornar mais curta a descida para as sombras.
— A fúria de Afrodite é implacável e não posso mais suportar. Sei também, que ela nunca irá me ressuscitar, por odiar-me tanto... Adeus, meu querido amor... Tu me ensinaste a amar e pela primeira vez, me senti amada quando não tinha mais esperanças de ser feliz... — Psique começou a chorar. — Talvez, os deuses do inferno tenham piedade desta alma aflita e não me punam, fazendo-me voltar ao meu corpo... Oh, deuses! Entrego-me a vossa vontade...
(Entretanto, antes que Psique se jogasse da torre, Zéfiro impede-lhe).
— Não faça isso! Pare, Psique!
— Zéfiro?!!
O vento-oeste sustentou-a e não permitiu que ela caísse.
— Por que, desventurada jovem, pretendes pôr fim aos teus dias de modo tão horrível?
— Eu não tenho mais esperanças! Eu não posso contra a fúria de uma divindade irritada!
— E que covardia faz desanimar diante deste último perigo, quem tão milagrosamente venceu todos os outros? Ouça, doce Psique: Vim da parte de teu marido, ensinar-te como podes, através de certa gruta, chegar ao reino de Hades e evitar os perigos do caminho; passar por Cérbero, o cão de três cabeças, e convencer Caronte, o barqueiro do rio das almas, a transportá-la por suas águas e trazê-la de volta, ilesa.
— Eros enviou-te? — sorri Psique cheia de esperança. — Então... isto significa que...
— Sim, bela menina! Teu amor já a perdoou por amar-te tanto... — diz o vento emocionado. — Tanto é assim, que ele fez com que as formiguinhas a ajudassem no templo e implorou aos deuses, que lhe fossem favoráveis e também a auxiliassem... Lembra-te do rio deus? E a reunião que Zeus convocou para esta noite é justamente para tratar do vosso caso. O deus supremo quer resolver a questão, da melhor maneira possível.
— Oh, Eros... Meu amor... — suspira ela.— Sempre estiveste por trás de tudo...
— Agora... ouça com atenção... quando Perséfone te der a caixa com sua beleza, tem cuidado, acima de todas as coisas, para que de modo algum abras a caixa e não permitir que sua curiosidade olhe o tesouro de beleza das deusas. Ei! Você entendeu?
— Sim! Eu entendi! — diz ela eufórica, mas a sua ansiedade era tanta, que ela não deu muita atenção àquelas palavras.
Animada por estas palavras, Psique seguiu todas as recomendações e chegou sã e salva ao reino de Hades. Foi admitida no palácio dos deuses do limbo e sem aceitar o delicioso banquete que lhe foi oferecido, contentou-se com um pedaço de pão para alimentar-se e regressar da viagem. Transmitiu o recado de Afrodite e a caixa lhe foi devolvida sem demora, fechada e repleta de coisas preciosas. Psique voltou pelo mesmo caminho e sentiu-se feliz quando viu outra vez a luz do dia.
— Eu consegui! Cumpri a prova! — comemora ela e olha para a caixa. — O que foi mesmo que Zéfiro me disse para tomar cuidado?
Naquele instante, a caixa começou a emitir um brilho azul e chamava-a por seu nome, como se desejasse tentá-la. Psique sentiu-se arrebatada e perdeu a noção do tempo e do espaço, ela parecia hipnotizada pela força misteriosa daquele objeto. Dominada por intenso desejo de examinar o conteúdo da caixa e usar um pouco daquela beleza, para parecer mais bela aos olhos de seu deus, ela abriu cuidadosamente a caixa.
Já recuperado, Eros teve uma visão do que ela estava prestes a fazer e arrancando o curativo do ombro, voou em direção às nuvens. Mas, quando a encontrou, era tarde demais. O infernal e verdadeiro sono eterno libertou-se da prisão e tomou posse de Psique, fazendo com que ela caísse fulminada, no meio do caminho.
— Psique!!! — berra o deus ao vê-la caída, como um cadáver sem senso de movimento.
Mas ele era um deus e não suportando mais a ausência da amada, usou o seu poder divino para reanimá-la. Beijando-lhe os lábios frios, retirou todo o sono de seu corpo aspirando-o e fechou-o de novo na caixa. Psique abriu os olhos e encarou-o surpresa.
— Eros! — diz-lhe sentindo os olhos úmidos pela emoção do reencontro.
— Mais uma vez quase morreste, devido à mesma curiosidade. — repreende-lhe o seu marido.
— Eu só queria ficar mais bonita para ti, meu amor. — justifica a jovem.
(Psique toca-lhe o ombro para certificar-se de que não é um sonho e ver-lhe a clara cicatriz).
— Para mim tu és linda da maneira que é, minha querida! Não precisas da beleza das deusas para impressionar-me! — diz o deus sorrindo e deixando a raiva de lado. — Agora vá e executa exatamente a tarefa que lhe foi imposta por minha mãe, que eu cuidarei do resto.
(Então, Eros rápido como um relâmpago, penetra nos céus e some das vistas).
Psique fez conforme ele disse; levou a caixa para Afrodite.
Antes da reunião, Eros apresentou-se diante de Zeus com sua súplica e o deus supremo do Olimpo ouviu-o com benevolência.
— Então a tua mãe impôs três tarefas à Psique, para assegurá-los de que lhes abençoaria a união? Tarefas estas, que ela cumpriu com louvor pelo que me disse...
— Sim, grande Zeus. Psique provou verdadeiramente os seus sentimentos por mim, mas minha mãe não quer admitir sua derrota.
(Os deuses foram chegando um a um e surpreenderam-se com a recuperação de Eros, até sua mãe).
— Mas o que fazes aqui? Deverias estar de cama, Eros!
— Ora e por quê? Ele me parece muito bem! — desdenha Atena aproximando-se. — Quer aprisionar teu filho para sempre, Afrodite querida?
— Ora! Cuide de sua vida que do meu filho cuido eu!
— Calem-se as duas! — grimpa Zeus. — Hermes, meu fiel mensageiro, quero que faças uma coisa por mim.
— Ordenai, senhor, pois de pronto hei de obedecer-vos.
— Traga a mortal Psique até aqui.
(Os deuses espantam-se. Nunca a uma criatura mortal foi permitido pisar, com seus pés, o monte Olimpo).
— Isto é um absurdo! — protesta Afrodite.
— Quem manda aqui, você ou eu? — retruca-lhe Zeus.
Hermes cumpriu a ordem dada e rapidamente, trouxe Psique até a presença dos deuses. Zeus acolheu-a com um sorriso amistoso e mandou que Hebe lhe trouxesse uma taça.
— Bebe isto, Psique, e sê imortal. Eros não romperá jamais o laço que atou convosco e estas núpcias serão perpétuas.
Psique olha para Eros e sorri radiante e ele, fez-lhe um sinal para encorajá-la a tomar do líquido. Afrodite ficou possessa, mas diante da decisão do deus supremo, ela nada podia fazer.
Psique bebeu e logo, diante dos olhos surpresos de todos os deuses, deu-se uma poderosa metamorfose:
Ela foi envolvida por uma luz dourada que assumiu a forma de um casulo. Os deuses protegeram os olhos diante daquela luz intensa e quando finalmente acostumaram-se com aquele brilho, viram o casulo mágico rompendo-se e, de seu interior, renasceu uma nova jovem com asas de borboleta e de uma beleza indescritível, beleza esta, de causar inveja as deusas mais belas.
— Bem, ela terá que voar para poder acompanhá-lo... — fala Zeus ao perceber que os deuses o olhavam.
— Oh, Eros! — exclama Psique feliz e estende-lhe os braços.
— Psique! — Eros abraça a amada e ficaram muito tempo agarrados um ao outro.
Os deuses ficaram emocionados e cada um presenteou Psique com um dom.
— Não estás esquecendo de nada, Afrodite? — provoca Zeus ao perceber que ela negava-se a abençoá-los. — Se era por ela ser uma reles mortal, Psique não é mais.
Muito a contra-gosto e sob a ameaça de punição de Zeus, Afrodite os abençoou.
Ambos deram as mãos e ganharam os céus. Apolo adiantou-se e, inspirado pelo grande acontecimento, deixou fluir a inspiração e declamou uma bela poesia em alusão aos dois amantes, que após tantas adversidades, conseguiram vencer os obstáculos e finalmente, viram-se juntos para sempre.
— “Seu filho, o deus do amor, logo avança,
A linda amada, em transe, conduzindo.
Após tantos labores enfrentar,
Eis que, com a aprovação dos deuses todos,
Em sua esposa eterna há de torná-la.
E de tal himeneu, irão dois gêmeos,
Juventude e Alegria, venturosos,
Muito em breve nascer; jurou-o Jove.

Quanta lenda tão bela, outrora, nesse dia
Longínqüo em que a razão tornava à fantasia
A asa multicor e, entre areias de ouro,
O rio carregava um líquido tesouro!
Quando a Mulher sem par, beleza peregrina,
Que de sofrer e amar e lutar teve a sina,
A terra percorreu, exausta, noite e dia,
Em busca de seu Amor, que só no céu vivia!


Ó mais bela visão! Ó derradeira imagem

Da estirpe celestial, da olímpica linhagem!
Mais bela que Ártemis livre de seu véu
E que Vésper erguida entre os astros do céu!
Que, no Olimpo, pudeste reluzir e ofuscar,
Embora sem um templo, embora sem altar!”

E assim, Psique ficou finalmente unida a Eros e, mais tarde, tiveram uma filha, cujo nome foi Prazer.
E depois de tantas desventuras, a humanidade finalmente reencontrou a paz, pois Eros, plenamente recuperado, voltou ao mundo e Anteros, foi precipitado novamente nas trevas por toda a eternidade.

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