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Pelo mundo

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Capítulo 3



No dia seguinte...
— Como?! Psique irá receber-nos em seu castelo? — pergunta a rainha.
— Pelos deuses! Então nossa filha está bem! — vibra o rei, uma vez que acreditava piamente que Psique não estivesse mais viva; que já tinha se transformado no alimento do tal monstro.
— É claro que a jovem está viva! — retruca Zéfiro — O que pensaram afinal? O senhor de vossa filha é um ser de muito bom coração, fiquem sabendo! — defende-lhe o vento-oeste — Ele é... — Zéfiro tapou a boca. Quase falara demais.
— Mas não foi isso que o oráculo dos deuses disse. Lá, soubemos que ele seria um monstro terrível. — teima o soberano.
— Ora! O meu recado está dado! Não posso perder mais tempo, preciso convidar as vossas outras filhas! Estejam preparados sobre a montanha dos ventos, pois voltarei para buscá-los.
E assim fez Zéfiro. Buscou as irmãs de Psique e os reis, e conduziu-os ao templo, onde Psique morava. Psique recebeu-os com grande alegria.
— Papai! Mamãe! Minhas irmãs queridas!
— Psique! — a rainha abraçou-lhe — Oh... deixai-me vê-la! Estás linda, minha filha! — coruja ela.
O rei olhava admirado para o rico palácio.
— Este palácio é mais rico do que o meu!
— Isto não é um palácio. É um templo. — explica-lhe a filha.
— Um templo?! — disseram todos juntos.
“— Para isto ser um templo... então o marido de Psique é...” — desconfia uma de suas irmãs, sentindo uma certa inveja da sorte da irmã mais nova, no que Afrodite aproveitou para colocar, mais uma vez, o seu dedo na história.
(No Templo de Afrodite)
— Isso mesmo, princesa... Sua irmã mais nova tem mais sorte do que vós... — sussurrava a deusa, aumentando-lhe a inveja — Tu desposaste um marido mortal, mas ela, desposou um deus.
Sua irmã mais velha começou a sentir claramente, em seu coração, aquela voz feminina que incitava mais ainda a sua inveja e falou com a outra.
— O quê?! Um deus? Psique desposou um deus? — admira-se a outra — Não pode ser! Deve haver algum engano! O oráculo disse que ele seria um monstro!
— Mas não é. Todos nós fomos enganados.
— Daí se explica tanta felicidade. Ela já deve saber disso. — observa a outra irmã, a filha do meio do casal — E todos nós preocupados com ela...
— Será que ela sabe? — duvida a mais velha.
— Ei! Irmãs! Não fiquem aí paradas! Venham aproveitar o que vossa irmã tem para vos oferecer! — chama-lhes Psique alegremente e começou a puxá-las para dentro.
E a inveja tornou-se mais forte quando viram toda a mágica do lugar.
— São servos invisíveis! — assusta-se uma das irmãs.
Psique bateu palmas e logo, as mesmas vozes que a arrumaram para sua primeira noite vieram atendê-la.
— O que desejais, senhora? — diz uma delas sorridente.
— Creio que minha família esteja cansada da viagem e por isso, desejam refrescar-se. Preparem banhos relaxantes para todos; quero que se sintam em casa.
— É pra já, senhora! — disse-lhe a voz.
— Por Zeus! Ainda não estou acreditando! O que são estas vozes? Fantasmas?! — assusta-se a rainha.
— E vejam com que diligência arrumam o almoço! — falou também o pai.
— Não! Não são fantasmas! São meus servos e também meus amigos. Eles que me fazem companhia durante o dia, até que a noite chegue.
— E o teu marido, querida irmã? Quero conhecê-lo! Onde ele está? — pergunta a irmã mais velha.
— Meu senhor só chega junto com a noite. — responde-lhe Psique de modo inocente.
— O quê?!! Está nos dizendo que só o vê a noite?
— Sim. Por que o espanto?
Todos se entreolharam surpresos. As vozes voltaram.
— Está tudo pronto, minha senhora. Vossos parentes já podem se refrescar.
— Ótimo! Fiquem à vontade e lavem-se, enquanto termino de preparar o almoço.
Durante o almoço conversaram alegremente.
— Minha filha... estou tão feliz por você! — dizia-lhe a mãe de forma carinhosa.
— Vejo que vosso marido é muito bom para ti, querida Psique. — comentava o rei admirado.
— Sim. Ele é adorável!
— É de admirar! Como pode um monstro ser tão bom assim? — falou a sua irmã mais velha, desejando saber mais sobre o casal.
— Ele não é um monstro! — defende-lhe Psique.
— Ora! Então já viste o rosto dele, suponho! Como ele é? — insistiu ela.
— Bem... eu não sei. — responde-lhe Psique.
— Como não sabe? — admirou-se a outra irmã.
— Eu não sei! Ele jamais me deixou ver seu rosto! Meu senhor vem ter comigo à noite, quando a escuridão o favorece...
— Pelos deuses! Isto é muito grave! — comentou a mais velha.
— Por quê?! — admira-se Psique.
— Como pode se deitar com um homem sem saber como ele é? — diz ela, erguendo-se da mesa.
— Não entendo este espanto...
— Não entende? Ora por Zeus, Psique! Está claro!
Os reis ficaram pálidos.
— Ele realmente deve ser um monstro terrível!
(Psique deixou a taça cair de sua mão).
— Cale-se, Camila! — ordenou o rei — Não assuste sua irmã!
— Ah, não! Não me calarei! Se não te importas com tua filha, eu me importo com minha irmãzinha! — disse ela demonstrando falsa preocupação.
— Camila tem razão, meu pai. — falou a outra entrando no jogo.
(No Templo de Afrodite...).
— (HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!) Isto está cada vez mais divertido! — vibrava a deusa — Oh,sim... continue, querida Camila! Deixai-a com bastante medo!!!
(No almoço...)
Sua irmã mais velha aproximou-se bem de seus olhos e encarou-a; Psique começou a tremer.
— Lembra-te: o oráculo dos deuses revelou que tu te casarias com um monstro horrível e tremendo. E sabe o que dizem os habitantes próximos deste vale? Eles dizem que teu marido é um ser metade serpente e metade homem, que te nutres, por enquanto, com alimentos deliciosos a fim de devorar-te depois. Dizem por aí, que ele já fez isso com outras moças, antes de ti. Ele tem um poder tão grande, que consegue seduzi-las deixando-as apaixonadas; a ponto de duvidarem que ele seja um monstro... e, quando elas menos esperam, e quando já estão bem gordas... ZÁSSS!!!(Psique dá um pulo) Ele se alimenta delas!
(Psique imaginando-o)
— Ai, não! — grita Psique.
— Como conseguiste se informar sobre isso? — quis saber o rei.
— Desde que minha irmã se casou com ele, que eu venho me informando. — mentiu ela.
— Pára com isso, Camila! — repreende-lhe a mãe.
A irmã calou-se. Já conseguira o que queria; semear a desconfiança no coração de Psique.
— Psique precisa se defender desta coisa abominável, mãe! Ela não pode permitir que este monstro a devore, como fez com as outras! — insiste a sua irmã do meio.
— O que eu faço?!! — gagueja Psique.
— Psique, me ouça com atenção. Ouve nosso conselho, pois te amamos muito: Arme-se com uma faca afiada e arranja uma lâmpada. Esconde-as de maneira que teu marido não possa achá-las e, quando ele estiver dormindo profundamente, sai do leito, traze a lâmpada e vê, com teus próprios olhos, se o que dizem é verdade ou não. Se for... oh, Zeus! Se for... não hesites em cortar-lhe a cabeça e recuperares tua liberdade! — sugeriu ela.
Psique resistiu a estes conselhos tanto quanto pôde, mas o medo imposto sobre ela pela irmã, foi mais forte.
Quando a sua família despediu-se dela e Psique viu-se sozinha em seu mundo cheio de encanto, começou a ter terríveis pesadelos acordada; passou a imaginar-se sendo devorada a qualquer momento. E qualquer barulho que ouvia, assustava-a.
— Acho que Camila tem razão! Eu preciso me defender!
Psique, pelo adiantado da hora, sabia que o seu marido chegaria a qualquer momento e tratou logo de providenciar o que sua irmã havia-lhe sugerido. Arranjou uma faca afiada e uma lâmpada a óleo e escondeu-lhes muito bem.
Na hora em que Eros chegou, sentiu que Psique não lhe dera muita atenção e achou-a um pouco diferente das outras noites; ela não demonstrou alegria ao sentir-lhe a presença.
— E então, meu amor? Sente-se feliz, agora que viu sua família?
— Sim. Muito...
(Ele faz menção de abraçá-la, porém, ela esquiva-se)
— O que houve, querida? Por que não me deixaste abraçá-la?
— Não é nada, meu senhor. — disfarça ela — Apenas estou me sentindo indisposta hoje...
— Se é assim, não vou forçar-te a nada. Deve ser o cansaço do dia, pois as emoções foram fortes hoje, não é? — brinca Eros de forma inocente.
— Sim. É isso. Perdoe-me, querido, mas estou com muito sono... — Psique finge bocejar.
Eros deita-se ao lado dela e adormece instantes depois. Psique, então, sentindo que o marido dormia profundamente, levanta-se com cuidado e procura a lâmpada e a faca que escondera. Sua respiração estava acelerada e seu coração parecia querer pular pela boca. Ela acendeu a lâmpada e custou a virar-se, temendo o que provavelmente veria sobre o leito.
“— É agora... preciso criar coragem...” — pensava ela — “... E se for verdade o que minha irmã disse...” (Psique lembrou-se da irmã): “— Não hesites em cortar-lhe a cabeça”.
Psique foi se virando lentamente e, para seu espanto, não contemplou um monstro horripilante, mas sim... o mais belo e encantador dos deuses: com mechas douradas e macias caindo-lhe sobre os ombros, rosto corado e suave, e um belo par de asas brancas e brilhantes, que serviam de bela moldura ao seu corpo perfeito. Ele respirava suavemente, denunciando que estava mergulhado em doces sonhos, pois ele sorria. E que belo sorriso!
— Pelos deuses... — murmurou Psique para si mesma e ajoelha-se maravilhada junto ao leito — Ele é um deus... ele é Eros, o deus do amor! Ele não é um monstro...
Lágrimas brotaram de seus olhos, já que uma paz imensa invadiu-lhe o peito. Extasiada, quis contemplar-lhe o belo rosto mais de perto e aproximou a lâmpada. Sob aquela luz suave, a beleza tornou-se mais gritante; quase que irreal! Psique não tinha palavras para expressá-la...
— Meu amor... meu querido amor! — falava ela apaixonada enquanto reclinava-se sobre ele para beijar-lhe a face.
Mas... por um azar, uma gota do óleo quente cai sobre o ombro de Eros e, quando este sente o calor, acorda assustado e encara Psique. Ela também se assusta e cai no chão; com a surpresa, Psique esqueceu de esconder a faca afiada que estava segurando.
— O que pensavas fazer? — pergunta-lhe furioso — Por que esta faca?
— Faca?! Que faca... Oh não! (Ela tenta esconder a lâmina, contudo, era tarde demais)
— Tu irias me matar? — seus olhos, de um azul profundo como o céu, encheram-se de cólera — Depois de haver desobedecido às ordens de minha mãe e feito-te minha esposa, tu estavas disposta a cortar-me a cabeça?! Oh, Psique... que decepção...
Lágrimas vieram aos olhos de Eros.
— Não! Meu senhor, não! Eu posso explicar... Minha irmã, ela... ela me disse que tu eras um monstro! — disparou Psique — Eu fiquei com muito medo! Oh, meu marido... Perdoe-me!
Psique ainda arrastou-se até ele e agarrou-lhe as pernas, numa tentativa de conquistar o perdão do amado, só que Eros repeliu-lhe o gesto.
— É assim que retribuis o meu amor? Preferiste acreditar em tua irmã do que em mim?! Oh, Psique... eu não posso perdoá-la! Jamais!!! Vai! Volta para as tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus!
(Nessa hora, Afrodite surge entre eles, gargalhando em meio à uma nuvem espessa e brilhante).
— Eu venci! Eu sabia! SABIA!!!
— Eros! — grita Psique desesperada.
— Viu, meu filho? Agora aprendeste que os humanos não merecem o amor sincero de um deus. Eles não são dignos de confiança... — envenena-lhe a deusa.
— Isso não é verdade! — protesta Psique — Eros! EU TE AMO!!!
Afrodite ergueu a mão e fez com que Psique fosse lançada contra a parede.
— Cala-te infame!
— Pára, minha mãe!!! — implora o deus.
— Eros... deves cumprir o que me prometeste. Deixe-a para sempre!
— Sim. Eu a deixarei! Mas não a machuques!
(Afrodite solta outra gargalhada provocadora e o envolve em sua nuvem).
— Não! Eu imploro, poderosa Afrodite! Não o leves de mim! Eros! Não me deixes, por favor! — apela Psique às lágrimas.
— Eu não posso. Eu dei a minha palavra à deusa. Adeus Psique. Pois o “AMOR” não pode habitar, sob o mesmo teto onde mora a desconfiança. — diz-lhe o deus limpando a nuvem de lágrimas de seus olhos e desaparece.
— Não! Eros!!!
A gargalhada cruel de Afrodite ressoou mais uma vez no aposento e, no mesmo instante, o rico templo começou a desaparecer e ela viu-se em meio a uma terra árida e improdutiva, em vez do belo prado verdejante de antes. Psique entrou em desespero e chorava de forma inconsolável; num último recurso, chamou por ele uma última vez, mas não obteve resposta.
Restou-lhe, então, voltar ao castelo dos pais e empreendeu uma jornada longa e penosa. E certa manhã, depois de andar léguas, Psique bate à porta de sua antiga morada. Ela estava suja e maltrapilha; a mãe quase não a reconheceu.
— Psique !? — assusta-se a rainha.
— Mãe! Eu sou uma desgraçada! — disse ela agarrando-se à sua mãe.
— O que houve?— espanta-se o rei.
As irmãs de Psique ainda se encontravam no palácio, aguardando os maridos que estavam a caminho para buscá-las e ouviram tudo.
— Ele me deixou! Meu marido me abandonou!
— Por quê?! — indaga o rei.
— Porque eu dei ouvidos à Camila! Pai... meu marido não era um monstro. Era um deus do Olimpo! Era Eros!
— Oh, não! — suspira a mãe decepcionada — Pobre Psique! Que benção que perdeste, minha querida!
(À parte...)
— Você ouviu? — disse Camila à outra — Eu tinha razão!
A outra irmã estava surpresa com a revelação e, a princípio, ficou calada; porém, a inveja e a satisfação também invadiram a sua alma.
— Bem-feito. Por que a nossa irmã amaldiçoada pelos deuses, seria coroada com tanta ventura e nós, não?
— Agora que ele está livre, quem sabe não venha a escolher uma de nós?
— Nós?! Mas já somos casadas! Nossos maridos estão a caminho do palácio para buscar-nos.
— Ora, e daí? Se ele se apaixonar por uma de nós, eles não poderão fazer nada contra um deus.
— Bem... isso é verdade!
— Então, o que estamos esperando? Vamos ao “Topo-dos-Ventos”, para que Zéfiro nos leve até ele.
As irmãs de Psique partiram às ocultas, sem que os pais percebessem.
Psique tentou dormir um pouco naquela tarde, aconselhada pelos pais, mas não conseguiu; o desespero que sentia por ter perdido o seu amor era doloroso e cruel.
— Come ela está, senhora? — pergunta o rei à esposa.
— Um pouco mais calma, agora. Mas continua sofrendo com a perda que teve. Onde estão Camila e Egéria? — assusta-se a rainha.
— Não estão no palácio? — admira-se o rei.
— Estavam aqui há pouco. Onde será que elas foram?
(No alto do monte...)
— Chegamos! — falou Camila eufórica.
— Não vejo a hora de chegar ao templo e conhecer Eros! — vibrou Egéria.
Elas estavam alucinadas e, por causa da inveja e da ambição de serem amadas por um deus, ignoraram a razão e atiraram-se do precipício, pensando de Zéfiro sustentá-las, como na primeira vez que foram com os pais visitar Psique. Só que Zéfiro recusou-se em fazê-lo e para puni-las, permitiu que as invejosas irmãs se encontrassem com a morte certa, no fundo do abismo.

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