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Pelo mundo

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Capítulo 2


Após o banho, as vozes voltaram e puseram-se a arrumá-la. Vestiram-na com os trajes mais ricos e finos. Logo, Psique estava pronta e linda.
— O quê?! — assusta-se Psique ao ver-se pronta com tanta rapidez.
— Vosso marido ficará encantado com tanta formosura, senhora! — brinca uma das vozes, mas Psique ficou triste.
— Por que estás tão triste, jovem princesa? — comenta a mesma voz.
— Nada. — gagueja Psique, lembrando-se das palavras do oráculo.
Uma pergunta veio à cabeça dela na mesma hora e as vozes lhe responderam, como se lessem os seus pensamentos. Psique ficou mais surpresa depois disso.
— Vosso marido só virá ter convosco à noite, quando a escuridão favorecê-lo e não causar-lhe tanto espanto.

(Quarto do casal: Já era bem tarde e Psique não conseguia dormir. Estava apreensiva porque, até agora, nem sinal do monstro que a desposaria e este, poderia chegar a qualquer momento. Talvez, no fundo, ela desejasse que ele não viesse, mas... quando a madrugada ia adiantada, Psique ouviu um bater de asas...).
— “ASAS?!!” — pensou assustada, temendo o que poderia ser.
Ela puxou a coberta até a altura de seu pescoço e encolheu-se toda. Pela janela, uma figura alada e sombria entrou no quarto. Psique sufocou um grito em sua garganta e começou a tremer de medo. Ele tratou de acalmá-la:
— Não temais, querida Psique. Não vos farei mal algum. Mesmo porquê, não poderia por amar-vos tanto!
Pela voz suave, Psique duvidou que ele fosse um monstro, mas as asas em suas costas, deixavam-na desconfiada.
— Beba isto. — pediu ele tirando de uma bolsa um outro frasco pequeno.
Antes de ter com a esposa, Eros passou pelas duas fontes do jardim de Afrodite, mais uma vez, e recolheu um pouco da água da fonte da alegria e guardou-a consigo. Aquele líquido, dourado em sua cor, quebraria o efeito da fonte da desventura e a maldição, seria desfeita.
— O que é isto? — pergunta a virgem desconfiada.
— Se beberes desta água, a maldição imposta sobre ti será quebrada. — explica Eros.
(Psique obedece).
— Bem... vejamos se funcionou...
Eros atraiu-a para junto de si e beijou os lábios da jovem com paixão. Psique estava paralisada, mas entregou-se ao beijo; ao seu primeiro beijo. Foi um beijo longo e ardente, porém... não passou disto naquela noite. Eros sabia que Psique tinha medo dele e por isso, deveria ser bem cauteloso com ela, para não causar-lhe desconforto e aos poucos, ganhar-lhe a confiança.
— Ei! Aonde vais? — pergunta a jovem confusa.
— Deixo-vos, para que não vos cause desconforto, pois sei que sentes medo de mim. — explica-lhe docemente — Adeus, meu amor.
Ele se despede e parte rápido, da mesma forma que chegou: pela janela aberta.
E toda noite, a mesma hora de sempre ele chegava, beijava-lhe os lábios e, com o passar das noites, foi intensificando as carícias, até torná-las mais ousadas, na medida que Psique permitia. Aos poucos, foi envolvendo-a no amor intenso que sentia por ela e a deixava sempre, com mais desejo de amar e de ser amada por ele.
— Por que faz isso comigo? — passava a comentar contrariada — Me envolve tanto, me deixa ardendo em desejo, para depois partir... Por quê?
— Um dia, tu me pedirás para ficar e eu, ficarei... e sem o menor temor, hás de se entregar a mim e eu, farei de ti minha verdadeira esposa e senhora de minha vida e o amor, estará sempre presente entre nós. — disse o misterioso amante, despedindo-se mais uma vez.
Com o tempo, Eros deixou de aparecer algumas noites, para atiçar-lhe a saudade e a inquietude. Numa semana, era uma noite sim e outra não; noutra, só aparecia uma noite e ficava duas noites sem vir. E como tinha imaginado, Psique começou a sentir demais a sua ausência e nas noites que ele não aparecia, Psique chorava de saudade. Pelo menos assim ela acreditava; porém, Eros sempre esteve com ela, mas mantinha-se escondido para ver-lhe as reações.
Então... numa bela noite, depois de cinco dias seguidos sem vê-la, Eros chegou e numa atitude desesperada, Psique atira-se em seus braços.
— Achei que não me amasses mais. — chorava ela sentida — Por que me abandonaste assim?
— Eu jamais iria abandoná-la, minha amada! Achei que um tempo longo vos ajudaria a refletir...
— Não faças mais isso! Por favor... — ela faz uma pausa e depois, confessa — Eu te amo, meu senhor. Jamais me deixes. Fique comigo esta noite... eu quero ser tua esposa de verdade... — sussurra apaixonada.
Eros sorriu feliz. Psique estava pronta para ele e ele, com o coração disparando, fez dela sua esposa. Naquela bem-aventurada noite, ambos se amaram como marido e mulher. Nada para Psique importava mais, nem que ele fosse o pior dos monstros. Nos braços dele, ela esqueceu todas as lágrimas que vertera tempos atrás e Eros, como deus do amor que era, despertava nela as mais doces sensações, por ser um amante ardente e apaixonado.
A cada união íntima, Eros irradiava a sua energia e Psique, recebia a essência do amor em seu regaço. Mas quando o Sol começava a nascer no leste, Eros levantava-se antes e partia, deixando-a mergulhada em sono profundo.
Pela manhã, na hora que Psique sentia o sol, ela abria os olhos e procurava por ele, contudo, o seu senhor já estava longe e só voltaria à mesma hora de sempre. Psique ficava contando as horas, ansiosa para vê-lo outra vez ao cair da noite. E todas as manhãs era a mesma coisa; Eros partia cedo e Psique ficava só, o resto do dia, apenas em companhia dos criados mágicos; o dia parecia uma eternidade para ela, mas quando a noite se aproximava, Psique parecia outra pessoa. Pois sabia que seu companheiro estava perto de chegar e logo iria cubrir-lhe de carinhos e mimos.

(Templo de Afrodite: Através de sua fonte mágica, a deusa soube que ambos tinham se entregado um ao outro; pois não há nada em relação ao amor que ela não saiba, seja em relação aos homens ou aos deuses; o que causou uma fúria incontrolável na invejosa e orgulhosa deusa).
— Maldição!!! Esta mortal não merece o amor de meu filho! Ela não pode me derrotar! Nem pelas minhas rivais, Hera e Atena; cujo julgamento daquele pastor chamado Páris, concedeu-me a palma da beleza, eu fui derrotada! Como pode então, uma menina tão insignificante como ela, obter vitória sobre mim e conquistar o amor com tanta facilidade? Eles não serão felizes! Não permitirei!
Julgando-se vencedor da prova, Eros foi até Afrodite para persuadi-la a abençoar-lhes a união, porém... ela se negou.
— Ainda é muito cedo para abençoar-lhes. Ela ainda não provou que confia em ti. — desconversava Afrodite, tentando ganhar tempo.
— Mas ela já confessou que me ama! — replicava o deus.
— Ainda não é o suficiente.
Quando Eros deixou o templo de sua mãe, Afrodite começou a arquitetar um terrível plano para separá-los. Começou a usar a seu favor, o sentimento que os unia e fez com que Psique sentisse uma vontade louca de ver-lhe o rosto. O que não seria difícil, porque qualquer mulher, na mesma situação que ela, desejaria conhecer aquele amante tão ardente e que a fazia tão feliz a cada noite; não porque o julgasse um monstro, mas por mera curiosidade. Contudo, Eros não poderia mostrar-lhe o rosto, pois estava preso ao juramento que fez à sua mãe.
— Por que partes tão cedo e não me deixas ver teu rosto? Quero tanto ver-te! — pedia ela.
— Por que queres me ver? Duvidas de meu amor? Tens algum desejo que não foi satisfeito? Se me visses, talvez iria temer-me, talvez adorar-me, mas a única coisa que peço é que me ames. Prefiro que me ames como igual, antes que me adores como um deus.
— Ah, por favor! Só uma vez!
— Não. Não posso fazer isso.
Tais argumentos aquietaram Psique por uns tempos; mas... com o passar dos dias, uma saudade incontrolável de suas irmãs e da família, apoderou-se de seu coração. Saudade esta imposta pela própria deusa que, de seu templo, atormentava Psique. Ela sentia-se muito só durante o dia e só de noite, seu senhor chegava para aliviar-lhe a solidão. Mas nem por isso, esquecia a saudade que lhe feria o peito. E Eros reparou que ela sentia alguma coisa, só que para não atormentá-lo, Psique nada dizia.
— Diga-me, querida. O que sentes? Pois percebo que desejas falar-me algo, mas ao mesmo tempo, evitas e desconversas sobre o fato.
— É impressão sua, meu querido...
— Não é, Psique... eu te conheço. Algo está a atormentar-lhe a alma.
— Acho que realmente me conheces, meu senhor... mas não é nada!
— Conte-me o que te afliges, não me esconda nada. Acaso não confias em mim?
— Não, é claro que confio! — retruca-lhe aflita.
— Então, me digas o que tens. Talvez eu possa ajudar-te...
— És tão bom para mim, que eu não ousaria, meu senhor... mas; já que insistes...
— Pois fale.
— É que... passo o dia inteiro em companhia dos criados invisíveis, sem ninguém para conversar... Tu só me apareces à noite, porém, o resto das horas... — ela faz uma pausa — Sinto-me tão só à luz do dia!
— E por que não passeias pelo belo prado diante do templo; entre as flores do campo... Oh, bela Psique! Tantos dias enclausurada estão roubando-lhe o rubor das faces! Saia um pouco... não sois minha prisioneira.
— Mas não é só isso! Sinto saudades dos meus pais e das minhas irmãs.
Eros fica intrigado e confuso. A idéia não lhe agradara muito, uma vez que um encontro com a família, a esta altura, poderia reavivar-lhe antigos temores com as perguntas que lançariam sobre ela. Por outro lado, vê-la tão deprimida também, não era nem um pouco agradável para ele. O que fazer, então?
— Espere uns instantes, querida Psique... Preciso pensar um pouco.
— Aonde vais? Ficaste ofendido, não é? Oh, porque fui abrir minha boca?!
— Eu não estou ofendido, meu amor. Não pense numa coisa dessas. Eu só preciso de um tempo para decidir o que fazer, só isso.
Eros sai e enquanto passeava sobre uma planície próxima, foi surpreendido por uma risada sonora e debochada, que ele conhecia muito bem.
(Afrodite aparece sobre a costumeira nuvenzinha)
— Mãe?!!
— Estás com medo, meu querido? — provoca a deusa — Tu não me disseste, em nosso último encontro, que a tola mortal te ama? Que confia em ti?
— Não me enche! — grimpa o deus irritado.
— Não fale assim comigo! Respeite-me, pois sou tua mãe!
— Pois saiba que eu não tenho medo! Psique me ama!
— Bem, se tens tanta certeza assim, não vejo porque não permitir que ela veja a família! — provoca-lhe mais ainda — Quem sabe esta não seja a última prova que reste, para convencer-me de que os sentimentos da tola princesa por ti são verdadeiros? Se assim for, finalmente poderei abençoá-los! — desafia Afrodite.
— Queres esta prova? Pois bem! Terás esta prova! — retruca o deus.
Afrodite desaparece, às gargalhadas, sob uma nuvem reluzente e dourada.
Eros invoca Zéfiro no mesmo instante.
— Chamou, meu irmão? — disse-lhe o vento-oeste.
— Sim, meu amigo. Quero que partas e busque a família de Psique. Traga-os para cá, como fizeste com ela. Psique está sentindo muita falta deles e eu não suporto vê-la tão triste.
Depois de um tempo, Eros volta e encontra a esposa acordada e inquieta.
— Ainda não dormiste? — espanta-se ele.
— Eu não consegui dormir. Estava preocupada contigo.
— Psique, prepare uma excelente recepção amanhã. Terás visitas. Visitas que desejas tanto... — sorri o companheiro da jovem.
Ela entendeu a mensagem e o abraçou, radiante de felicidade.

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