Ilustração: Jean Dagnan Bouveret
Fazia um frio sombrio e gélido, pela esplanada do castelo de Elsinor. Francisco estava de sentinela e sentia um calafrio perturbador por todo corpo.
"Será verdade que por aqui está perambulando, sem ainda conhecer o caminho da luz, o espírito sofredor de nosso finado rei? Pela Santa Cruz! Se este espírito realmente existir, creio que, de pavor, morrerei..." — pensava o guarda preocupado.
Uma voz indagante cortou o silêncio.
— Quem está aí?
— AI, MEU DEUS!!!!! É ELE!!!! Piedade de minha alma, Senhor! — tremeu o homem deixando cair a lança, mas armando-se o mais depressa possível e apontando a arma ameaçadora, ou pelo menos, julgava que intimidava quem fosse, apesar de sua mão tremer de modo perceptível e inegável.
— Calma homem! Sou eu?
— Eu quem? Responda-me, pare e diga seu nome!
— Por Deus Francisco!— riu o homem.— Não sou a assustadora aparição sou de carne e osso! Viva o Rei!
— A senha! És tu Bernardo?
— Ele mesmo!
— Graças aos Céus! Vindes exatamente na vossa hora!
— Meia noite, Francisco, vai deitar-te.
— Agora mesmo! Não tenho o menor apreço por fantasmas! Muito grato vos sou por me renderdes. Que frio! Chega a doer-me o coração!
— Nem eu, amigo! Mas precisamos descobrir o que está havendo aqui! Foi calma a guarda?
— Não buliu nem rato!
— Então, boa noite. Se vires por aí Marcelo e Horácio, dize-lhes que se apressem; estão ambos escalados comigo.