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Pelo mundo

domingo, 22 de novembro de 2009

Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato V: "Sepultados no Amor"- final"


Em cidade pequena, as notícias voam, e em Verona não foi diferente, logo, uma multidão de curiosos acorreram ao cemitério, e se empurravam e se acotovelavam, para conseguir um lugar de melhor visão, para saber o que tinha acontecido de tão grave. O dia já havia amanhecido há pouco.
Os Capuletos e os Montecchios já haviam sido comunicados e se dirigiam para lá. O primeiro a chegar foi o príncipe Escalo, regente de Verona.
Que horror é este que nos fere a vista? — assusta-se o regente da cidade.
Os cadáveres estavam expostos à porta do mausoléu.
— Príncipe, aqui está morto o Conde Páris, Romeu e a que antes falecera, Julieta, e outra vez morta — explica-lhe um dos guardas.
Por Deus! Como se deu este horroroso morticínio? — exclama o regente horrorizado e inconformado por perder mais um parente, o seu sobrinho.
Nessa hora, enquanto lamentava-se pela perda, chegaram os Capuletos e logo depois os Montecchios.
— Por que estes gritos por toda parte? Que houve? — pergunta o Senhor Capuleto.
— Pelas praças, o nome de Romeu, o povo grita; outros, o de Julieta; outros, o de Páris, correndo toda a gente para o lado do nosso monumento — fala Bettina confusa.
O Senhor Capuleto estaca e não crê no que vê.
Ò Céus, mulher! Vê nossa filha: sangra! Um punhal em seu peito... Que se passa?!
Ai de mim! — Bettina cai com os joelhos em terra e desespera-se. — Esse quadro só de mortes é como um toque fúnebre que me chama à sepultura!
Chegam o Senhor Montecchio acompanhado de outros parentes.
— Ah! Chegaste Montecchio? — desdenha o príncipe de Verona. —Vem cá, homem; cedo te levantas, para mais cedo ver baixar teu filho.
— Oh, meu senhor! Que mais conspira contra minha idade? Minha senhora, doente se acha, por saber que o amado filho estava exilado e agora, isso? Oh, Deus! Será morte certa para Chiara, saber tamanha desgraça!
— Eis o resultado de tanto ódio — afirma Escalo.
Oh, néscio! Néscio! Que costume é este de antes do pai, entrar na sepultura? — lastima-se o velho Montecchio.
— Sela a boca de ultraje por um pouco, até que este mistério esclareçamos e fiquemos sabendo sua origem e verdadeiro curso. Apresentai-nos os suspeitos — ordena o príncipe.
Um guarda aproxima-se com Frei Lourenço e Baltazar.
— Aqui está um frade e também o criado de Romeu; instrumentos carregavam para arrombar o túmulo.
— Dos presentes, sou eu o mais suspeito, muito embora seja o que menos pode fazer algo, visto acusarem-me o lugar e a hora. Eis-me a acusar-me, a um tempo, e a defender-me, num só momento condenado e absolto.
— Então dizes logo o que sobre isto sabes — ordena Escalo.
— Serei breve... Romeu, aqui sem vida, era marido desta Julieta, assim como ela, era a fiel consorte deste Romeu.
O quê?! — exclama a mãe de Julieta, não acreditando em tamanha asneira sem sentido. — Isto é mentira! Nunca ouvi tamanho absurdo como esse...
Cala-te, mulher! Deixai que o padre continue a história! — grita o príncipe.
Um burburinho imenso foi ouvido no meio da multidão e Escalo teve que controlar a inquietação crescente, para que o frade continuasse.
— Fui eu que os desposei. Estas núpcias clandestinas deram-se na manhã do dia em que Teobaldo perdeu a vida, cuja morte baniu de nosso burgo o recente marido. Era por causa dele e não por Teobaldo, que Julieta se vinha definhando. Mas vós... — acusa os pais de Julieta — ... com o fito de expulsar-lhe do peito essa tristeza, ao conde a prometestes, tencionando casá-la a contra-gosto. A coitada, então, procurou-me desvairada e pediu-me que inventasse qualquer recurso que a livrasse desse segundo casamento, ou então lá mesmo, em minha cela, armada com um punhal, poria termo à vida. Dei-lhe então um estupefaciente que sobre ela o efeito produziu a aparência da morte. A Romeu escrevi nesse entrementes, para que ele aqui viesse nesta noite de horrores, ajudar-me a retirá-la de seu falso sepulcro, pois o efeito da droga nessa hora cessaria. Mas a pessoa que levou a carta, detida foi por acidente e Romeu não a recebeu. Então, sozinho, na hora prefixada para ela despertar, vim retirá-la do túmulo dos seus, para escondê-la na minha pobre cela, até chamar Romeu outra vez. Aqui chegando, porém, encontrei mortos o conde e o fiel Romeu. Nisso, Julieta despertou. Roguei-lhe que fugisse e que aceitasse com paciência o que o céu lhe destinara. Um barulho me afastou de Julieta, sem que, em seu desespero, ela comigo se retirasse, tendo ao que parece, posto termo à existência. A Ama estava à par do casamento, assim como o bom criado de Romeu, Baltazar. Se algo nisso falhou por minha culpa, que em minha velha vida, algumas horas antes do tempo, expie em sacrifício, sob o rigor da mais severa pena. Porém, o único desejo dos dois jovens, quando decidiram se casar, era tentar fazer brotar a paz entre suas famílias.
— A Ama está presente? Ela confirma esta história? Quero o parecer dela — exige o príncipe.
A Ama, aos prantos, aproxima-se.
— Sim, meu senhor. Eu fui testemunha do casamento deles.
E antes que o príncipe Escalo lhe perguntasse, Baltazar antecipou-se.
— Eu também confirmo.
— E tu, rapaz, como criado de Romeu, o que nos informa?
— Fui portador a meu senhor da nova da morte de Julieta. Ele, apressado, veio de Mântua para cá, para este mesmo túmulo, tendo-me ordenado que esta carta, a seu pai, desse bem cedo. Ao penetrar no túmulo, ameaçou-me de morte se eu não fosse embora logo e não o deixasse aqui.
— Dá-me esta carta, quero ver o que diz. E o pajem de Páris? O que chamou a guarda? Onde ele está?
— Aqui senhor.
— Que fazia teu amo aqui?
— Veio com flores para a sepultura da noiva, tendo-me ordenado que ficasse à parte. Depois, com luz, chegou um homem para violar a sepultura; tendo logo sacado meu senhor contra ele a espada, ao ver a cena, corri e fui chamar a guarda.
Escalo abriu a carta de Romeu e leu.
—Confirma a carta o que nos disse o monge: Aqui Romeu nos conta que, sabendo da morte da esposa, veneno ele comprou de um boticário e que vinha morrer neste sepulcro, para ficar ao lado de Julieta. Termina pedindo perdão pelo seu ato aos pais e encerra dizendo que os ama muito... — Escalo suspira desolado. — Muito bem... onde se encontram agora estes inimigos? Capuleto! Montecchio! — o príncipe chama e encara-os com grande desaprovação.
Eles se aproximam sem jeito e também decepcionados.
Vede como sobre vosso ódio a maldição caiu e como o céu vos mata as alegrias valendo-se do amor? Por minha parte, por ter condescendido com todos os vossos ódios, dois parentes perdi! Fomos punidos! Ouviram: TODOS FOMOS PUNIDOS!!!
As famílias choravam e sentiam remorsos por toda raiva cultivada por anos a fio. Raiva esta, sem nenhum sentido aparente que a desencadeasse. Ódio cultivado apenas por status social, por uma família desejar ser ainda mais influente na cidade do que a outra.
Capuleto, emocionado, dirige-se a Montecchio, que estava inconsolável.
— Dá-me tua mão, irmão Montecchio, é o dote de minha filha. Mais, pedir não posso.
— Mas eu posso dar mais, pois hei de a estátua dela mandar fazer do mais puro ouro. E enquanto for Verona conhecida, nenhuma imagem terá tanto preço como a da fiel e apaixonada Julieta — promete-lhe Montecchio.
— Romeu fama também dará à cidade; vítimas são de nossa inimizade.
Por um milagre, daquele dia em diante, os Capuletos e Montecchios prometeram a não mais levantar armas, uns contra os outros. Juraram diante do príncipe e dos corpos ali expostos que viveriam em paz. Escalo soltou um longo suspiro e declarou solenemente:
— Esta manhã nos trouxe paz sombria: esconde o Sol, de pesar, o rosto. Ide; falai dos fatos deste dia; pois há de viver em todos, na memória, de Romeu e Julieta a triste história.
Assim, arrumaram os corpos e fizeram um sepultamento solene dos dois jovens. Foram enterrados juntos, o local, não se sabe ao certo, pois faz muitos séculos, todavia, sabe-se que até os nossos dias, a estátua de Julieta, erguida pelo Senhor Montecchio, reina absoluta no jardim da antiga casa dos Capuletos e todos os que visitam Verona, ainda podem vê-la.
FIM

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