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Pelo mundo

terça-feira, 5 de maio de 2009

Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato IV: "A resolução de Capuleto-parte 1"

foto: dor e solidão
Julieta, sentada no chão frio da sacada, continuava a chorar.
— Já foste, meu senhor! Amor! Amigo de minha alma! Só o Rei dos céus sabe quando o verei novamente...
— Julieta... — a ama chega para consolá-la.
— Oh, ama querida! Como dói! Parece que arrancaram uma parte de mim...
— Eu sei, ovelhinha... eu sei... mas guardai a esperança em vosso coração. Romeu em breve poderá voltar para levá-la consigo.
— Um minuto encerra muitos dias, fazendo as contas assim, ficarei velha antes de ver o meu Romeu — comenta pesarosa.
Oh, filha! Mas que exagero!!! Claro que não! — a ama não conteve o riso.
Por Deus! Ainda não estão prontas?! — entra a mãe de Julieta de repente, assustando-as. — O cortejo fúnebre sairá em meia-hora...
Minha senhora!!!! Oh, mil desculpas! É que eu estava a consolar a pobrezinha pela perda do primo! Está inconsolável, coitada! — disfarça a ama.
— Ainda a chorar te achas pelo teu primo? — fala a mãe dela amargurada e fazendo um esforço para controlar o choro. — Acaso queres, com lágrimas, tirá-lo do sepulcro?!
— Por que não posso chorar tão grande perda, minha mãe? — argumenta a filha.
— Porque muito choro indica pouco espírito e deverias chorar, não pela perda, mas porque continua vivo o miserável que ceifou-lhe a vida! Esse vilão Romeu...
“Vilão e ele estejam separados por milhares de léguas... — pensa a menina. — Que seja por Deus perdoado, como por mim já o foi...”
— Deixa estar... — fala a mãe em tom ameaçador; os olhos luzentes de ódio. — Ainda haveremos de vingá-lo, por isso, não te aflijas. À Mântua, lugar onde se encontra o renegado... — continuou ela, como se ignorasse a presença das duas e falasse consigo mesma. — Mandarei quem lhe dê uma bebida tão fora do comum, que ele logo fará companhia a Teobaldo.
Julieta e a ama ficam pálidas.
— Muito que bem! Aprontem-se logo para seguirmos com o enterro — fala Bettina tornando a si e sai.
Oh, Deus! Minha mãe quer matá-lo!
— Calma Julieta. Palavras de uma mente perturbada pelo luto, não leve em consideração...
— Mas se ela de fato o fizer?!
— Não fará! Mas se suspeitarmos de algo, é só escreveres a Romeu em Mântua, recomendando-o a não aceitar nada de estranhos. Acalma-te e finja que chora a morte de Teobaldo.
— Hipócrita serei eu, por todos pensarem que choro por meu parente, quando, na verdade, choro por meu esposo ausente.
— Ninguém precisa saber disso! Vamos! Precisamos nos arrumar...
Julieta veste um vestido pesado e negro e junto da ama, dirige-se para o salão principal. O corpo de Teobaldo ainda estava exposto e trajado com suas vestes mais ricas. Bettina, que mostrara-se um poço de fortaleza no quarto da filha, agora chorava pelo morto. Era impossível não chorar com o corpo presente e todos emocionados. Até Julieta chorou.
Páris estava presente e achegou-se para cumprimentá-la e desejar-lhes os pêsames. Julieta agradeceu sem jeito e ficara muda o restante da cerimônia, enquanto Páris não saía de perto dela. Frei Lourenço já estava encomendando o corpo. Um silêncio mortal caíra sobre o recinto, entrecortado ás vezes por soluços e lamentações . Outras vezes, ouvia-se algumas maldições proferidas ao assassino.
Julieta estava sentindo-se sufocada, ouvir tudo que diziam de Romeu e nada poder dizer em defesa dele, muito a incomodava. No fundo, queria que aquilo tudo terminasse para recolher-se ao aconchego do seu quarto e chorar sua saudade.
Por fim, depois de Teobaldo ter sido devidamente sepultado no mausoléu da família, todos regressaram à casa. Páris continuou ao lado deles, principalmente de Julieta. Ele estava cada vez mais apaixonado e como estava para regressar às suas terras, queria voltar acompanhado de uma esposa.
— As coisas, meu bom Páris, tomaram rumo tão infeliz, que tempo não tivemos de advertir nossa filha. Vede bem: dedicava afeição sincera ao primo Teobaldo.
— Sim, percebi por suas constantes lágrimas.
— Bem... só nascemos para morrer. Já é muito tarde e creio que Julieta não mais descerá. Posso afiançar-vos que, se não fosse vossa agradável companhia, há uma hora já estaria me recolhido.
— Este tempo de dor não é propício para a côrte fazermos. Bem, despeço-me. Senhora passai bem e a vossa filha recomendai-me.
— Farei isso mesmo. Saberei cedo o pensamento dela. Hoje está na dor enclausurada.
— Só peço-vos que meditais, senhores, sobre minha proposta e logo me dêem alguma resposta, pois logo estarei de partida para Veneza...
O senhor Capuleto pensou um pouco e olhou para sua esposa e esta, sugestivamente, lançou-lhe um olhar come se dissesse: “Um casamento tão promissor, por que fazê-lo esperar sem dar-lhe logo uma resposta?”
— Senhor Páris, por favor.
— Sim, senhor Capuleto...
— É, bem... já que estás de viagem próxima, atrevo-me a afiançar-vos o amor de minha filha. Ela se deixa dirigir por mim em tudo. Sim! Estou certo disso! Não sairás de Verona sem vossa esposa a acompanhar-vos. Que dia é hoje?
— Segunda, meu senhor — responde-lhe Páris radiante.
— Ah, sim, segunda! Quarta-feira é muito cedo... será na quinta! Amanhã, bem, cedinho, subi ao quarto de Julieta, mulher, e dizei à nossa filha que, na quinta-feira próxima, desposará o nobre Conde. Não faremos muito barulho; uns dois ou três amigos, nada mais, porque tendo sido morto Teobaldo, há pouco tempo, poderemos dar razão às más línguas que pensem não lhe dedicarmos estima. Por isso, reuniremos uma dúzia de amigos. Então? Que dizeis de quinta-feira? Estareis pronto? Aprovai tanta pressa?
— Oh, senhor! Quisera que esta quinta-feira fosse amanhã!
— Então, estamos acertados. Quinta-feira por mim, minha filha vos será dada. Faça-a muito feliz.
— Por minha alma! É claro que sim!

Páris despede-se dos pais de Julieta. Bettina ficou feliz, era o seu maior sonho: casar Julieta com um homem influente e nobre de berço.
— Adeus, senhor Páris.
— Boas noites, senhor Capuleto. Senhora... — ele faz uma reverência respeitosa à futura sogra e sai.
continua...

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