Quem sou eu

Minha foto
Desejam falar comigo? *Escrevam seus comentários, que assim que puder, entrarei em contato. Eu não uso outlook.

Pelo mundo

quarta-feira, 4 de março de 2009

Romeu e Julieta (em prosa e versos) - Ato III: "Conflitos - parte1"


Mercuccio e Benvólio voltavam de uma cavalgada à hora terça da tarde. Os cavalos precisavam de água, pois estavam sedentos e fazia muito calor. A praça estava vazia, poucas pessoas transitavam, de certo, ainda temerosas do último conflito entre Capuletos e Montecchios.
— Peço-te, bom Mercuccio: retiremo-nos. Quente está o dia, os Capuletos andam pela cidade, esperando por uma nova oportunidade de provocar querelas. Querem encontrar Romeu; Teobaldo ronda pelas ruas, como um lobo sedento atrás dele... Não poderemos evitar contendas. O sangue ferve nestes dias quentes.
— Ora qual! Tu te assemelhas a esses tipos que, mal entram numa taberna, batem com a espada em cima da mesa e gritam: “Queira Deus que eu não tenha necessidade de ti!” E que após o efeito do segundo copo, sacam-na contra o taberneiro sem a menor necessidade!
— Eu não sou assim!
Vamos! Vamos! És tão esquentado como qualquer outro em toda a Itália. És capaz de brigar com um homem, porque tem um fio a mais ou a menos na barba do que tu! Já brigaste com um homem que tossiu na rua e despertou teu cão que dormia ao sol.
Estás exagerando! — irrita-se Benvólio. — Céus! Quanto perjúrio! Se eu fosse tão briguento como tu... Ai não! Aí vem os Capuletos... — desespera-se Benvólio.
Teobaldo chegara na praça, acompanhado de outros da família e olha em torno do lugar, avistando-os. As roupas vermelhas, brancas e douradas, cintilavam ao sol.
— A mim isso pouco importa! — fala Mercuccio ameaçador e encarando-os.
Teobaldo cochichou algo ao ouvido de um parente e se aproximou de ambos.
— Cavalheiros, boa tarde — falou-lhes secamente. — Uma palavra com qualquer um de vós...
— Só uma palavra com qualquer um de nós? — retruca-lhe Mercuccio com um sorriso cínico e enviesado. — Acrescentai mais alguma coisa; que seja uma palavra e uma estocada*... — desafia ele.
— Haveis de encontrar-me disposto para isso, quando me fornecerdes oportunidade...
— Hu! Hu! Hu! Não achais oportunidade, sem que vos ofereçam?! — debocha Mercuccio.
— Mercuccio, tu estás concertado com Romeu?
—Concertado? Como? Toma-nos por músicos?! Se nos tomares por menestréis, prepara-te para ouvir só desarmonias...
— Por favor! — fala Benvólio tentando contornar a situação. — Estamos numa praça bem freqüentada. Retiremo-nos para algum ponto à parte ou ide embora.
De fato, algumas pessoas já se aproximavam, enquanto outras abriam as janelas de suas casas e olhava-os com reprovação.
— Eu não recebo ordens de Montecchios —responde-lhe Teobaldo.
— Mercuccio, os olhos estão fixos sobre nós... — dirige-se ao amigo preocupado. — Vamos embora.
Para ver que os olhos foram feitos! Que nos vejam! Daqui não dou um passo.
Teobaldo encarou-o enfurecido, contudo, um de seus parentes desviara sua atenção. De repente, os olhos de Teobaldo brilharam alucinados. Olhou na direção que lhe apontaram e avistou Romeu vindo com Baltazar, seu pajem.
— Ficai em paz, senhores; eis quem desejava ver de fato.
Romeu acabava de chegar à praça e foi cercado pelos Capuletos, com Teobaldo à frente. Benvólio e Mercuccio empalideceram.
— Teobaldo?! — surpreende-se Romeu.
Baltazar leva a mão ao cabo da espada. Romeu segura a mão dele e balança a cabeça negativamente, como se dissesse: nada disso.
Dobre a língua ao falar meu nome, infame! O ódio, Romeu, que me despertas, sabe dizer-te apenas isto: Sois um vilão!
Benvólio e Mercuccio apressaram-se a se acercarem do amigo, para que pudessem defendê-lo, caso Teobaldo erguesse a espada contra Romeu. Romeu tentou argumentar...
— Não compreendo porque tão amargurada saudação? Não tenho nada contra ti...
— Por que não respondeste ao meu desafio, hein, covarde? — fala o primo de Julieta revoltado.
— Não respondi e nem responderei — fala Romeu impassível. —A razão de te amar, que eu tenho agora, Teobaldo, dispensa a raiva de uma tal saudação. Vilão, eu não sou. Bem vejo que não me conheces.
Amar-me?! Não dizes coisa com coisa! Estás louco?
Romeu fura o cerco dos Capuletos raivosos e tenta afastar-se depressa, puxando o braço de seu criado. Seu primo e Mercúccio seguem ao encalço dele. Isso fez com que Teobaldo se irritasse ainda mais e os outros da família, ficaram surpresos com a atitude do Montecchio.
Teobaldo corre e puxa-o pelo braço.
— Isso, rapaz, não basta como escusa para quantas injúrias me tens feito! Faze, pois, meia-volta e arranca a espada!
Romeu retira a mão de Teobaldo de seu braço e procurando manter a diplomacia, mostra-lhe a cintura, forçando um sorriso simpático.
— Não uso espadas! Creio não poder satisfazer vossa vontade! Além do mais, jamais vos fiz uma injúria que fosse. Acredite-me, amigo, tenho-te mais amor agora do que imaginas até que saibais o motivo disto, assim, bom Capuleto, cujo nome me é tão caro quanto o meu, fica contente!
Os amigos dele não estavam entendendo nada. E aquela conversa submissa e pacifista, já estava irritando Mercuccio.
— Eu não sou teu amigo! — diz-lhe Teobaldo com os dentes trincados e indignado.
Romeu estende-lhe a mão em sinal de paz.
— Um dia, talvez, quem sabe?
Teobaldo olhava para a mão dele atônito e confuso. Romeu permaneceu com a mão estendida, aguardando ansiosamente que Teobaldo correspondesse ao gesto, só que a resposta dele foi bem diferente...
Teobaldo cuspiu em seu rosto e saiu rindo. Aquilo foi a gota d’água para tirar Mercuccio do sério.
MALDITO!!!! — gritou ele possesso. — Oh, calma submissão, vil e insultuosa de vós, Romeu! Para mim basta! Se não fazes nada contra este biltre! Faço eu! — Mercuccio sacou a espada.
— Mercuccio! Não!!! — pede-lhe Romeu, segurando-o.
Ele tentou acalmá-lo, mas em vão.
SOLTE-ME!!! Eu não tenho sangue de cordeiro feito tu! TEOBALDO, SEU CAÇADOR DE RATOS!!!!! QUERES BRIGA?
Teobaldo começava a se afastar às gargalhadas, com os outros Capuletos e vira-se para ele.
— Que desejais? — pergunta com desdém.
Nada mais, meu bom rei dos gatos, além de uma das vossas nove vidas que tomarei a liberdade de tirar, deixando as outras oito para malhar depois!!!
— Oh!!!! O “Romeuzinho” precisa de defensor para lutar por ele! — caçoa o primo de Julieta. — Isto é patético!
— Romeu não tem defensores, mas tem amigos! Amigos de verdade e não os teus, que são mais teus serviçais, do que amigos propriamente dito! Anda, Capuleto maldito ! Arranca logo a espada da bainha, antes que a minha corte a tua orelha!!!
Teobaldo também saca a espada.
— Estou ao vosso dispor!
— Não, gentil Mercuccio! Meu amigo guardai a espada! — pede-lhe Romeu, mais uma vez, porém, Mercuccio ignora o pedido.
— Já disse para soltar meu braço! Vamos, senhor! Em guarda!!!
Batem-se e lâminas reluzentes silvam no ar.


continua...

* termo usado para um golpe certeiro de espada.



Nenhum comentário:

Postar um comentário