Quem sou eu

Minha foto
Desejam falar comigo? *Escrevam seus comentários, que assim que puder, entrarei em contato. Eu não uso outlook.

Pelo mundo

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Romeu e Julieta (em prosa e versos)-primeiro Ato "O Baile" - 3

foto: cena do filme de Franco Zefirelli "1968" (Julieta e Páris)
Ao virar-se, Romeu teve um sobressalto e contemplou a mais bela aparição, mais bela ainda do que Rosalina, a ingrata que magoara-lhe o coração.
— Andaste por demais ao sol, jovem senhor — brinca ela. — Balbuciando palavras sozinho e sem sentido aparente, ou se acaso engano-me, não estás contente?
Romeu fica sem palavras para responder à bela moça. Tinha diante de si, uma jovenzinha radiante como a aurora matutina. Pele clara como a neve e cabelos negros como o ébano; olhos de uma cor que Romeu não pode definir; ora pareciam verdes e ora azuis, dependendo da luz a banhar-lhe o jovem rosto; faces róseas, demonstrando o frescor da tenra idade e seus lábios? Ah, os lábios! Bem delineados pela natureza e tão carmesins, que pareciam uma uva moscatel madura e doce, convidando a ser provada. E o sorriso? Que lindo sorriso ornamentava-lhe a face! Dentes alvos e brilhantes!
O coração de Romeu disparou, mas antes que pudesse saber-lhe o nome, a dama virou-se e dirigiu-se à uma senhora que gesticulava-lhe de forma frenética. O rosto dele havia corado e sentiu um calor percorrer-lhe todo o corpo e agradeceu aos céus, por ter a face oculta.
— O que foi, ama? — pergunta Julieta.
— O conde Páris deseja despedir-se.
Julieta se segurou para não abrir um largo sorriso e acompanhada da ama entrou em casa.
— Quem será ela? — indaga-se Romeu encantado. — Oh, que simpleza! Nunca soube até agora o que era a verdadeira beleza!
Romeu estranha as suas palavras proferidas espontaneamente.
— Será que agora, de fato, saberei o que é o amor? Seguirei atrás.
Ele volta para o salão iluminado e começa a procurar pela jovem. Viu-a conversando com um cavalheiro e nesta hora, passou um criado servindo.
Ei! Amigo! Que dama é aquela que fala com aquele cavalheiro?
Já cansado e mau-humorado, o criado responde de qualquer maneira.
— Desconheço-a, meu senhor.
Depois que o servo afastou-se, Romeu levanta a máscara e continuou em sua contemplação apaixonada.
— Ela ensina a tocha a ser luzente! Dir-se-ia que a face está pendente da noite, qual jóia mui preciosa, na orelha de uma etíope mimosa! Bela demais para o uso, muito cara para a vida terrena! Como clara pomba ao lado de gralhas tagarelas, anda no meio das demais donzelas!
Teobaldo, primo de Julieta por parte de sua mãe, passava na hora e viu-lhe o rosto antes de Romeu baixar novamente a máscara, e o reconhece.
— Como esse vilão se atreve a com máscara grotesca, vir aqui para de nossa festividade rir e fazer pouco? — fala indignado. — Pela honra de meu sangue e nobre estado, dar-lhe a morte não julgo ser pecado!
Teobaldo corre em direção aos tios. Romeu, alheio, nem percebera que Teobaldo o vira.
Páris foi embora e Julieta voltou para a roda de dança, para divertir-se com as amigas. Estava feliz e aliviada.
— Vou procurá-la, após a dança, para que esta mão possa tocar nela e assim ficar bendita!
— Tio! — chama-o Teobaldo.
— Que é, sobrinho meu? Que se dá contigo?
— Aquele é um Montecchio, nosso inimigo? — fala apontando-o.
— Como tu o sabes?
— Vi-lhe por uns instantes o rosto, enquanto tinha a máscara levantada.
— Mas quem é ele?
— É Romeu Montecchio! O biltre Romeu! — fala Teobaldo com raiva. — Ele entrou aqui, por zombaria, para estragar nossa alegria!
— Caro sobrinho, aquieta-te! Deixai-o tranqüilo! Ele não fez nenhum chiste com nossa festa, tem-se mostrado um perfeito gentil-homem. Para ser-te franco; Verona tem orgulho dele, como rapaz virtuoso, pacífico e mui polido. Não quero que ele seja, em minha casa, ofendido. Acalma-te, portanto e fica alegre! Essa é a minha vontade!
Bettina Capuleto surpreendeu-se com a tolerância do marido.
— Acatai sua presença, fica alegre e desfaça esta carranca que não vai bem com nossa festividade! — diz-lhe Capuleto.
Teobaldo não conseguia acreditar no que ouvira. Ver o tio defendendo o inimigo, muito o revoltou.
Vai sim, quando um vilão se mete nela! — retruca-lhe. — Tio, eu não o suporto! Por favor... é vergonhoso!
Capuleto segura-lhe firme pelo braço e joga-o em uma cadeira.
— Terás de suportá-lo! Estou mandando: deixa-o em paz!
Quem manda aqui, acaso, vós ou eu? Ora! Não o suportais, então; quereis fazer barulho entre meus hóspedes?! Provocar Briga?! Quereis ser o primeiro a ser enforcado pelo Príncipe Escalo? Sois um petulante! Arrependi-me de tê-lo convidado!
— Mas... — ele ainda tentou argumentar.
SILÊNCIO!
Ide acalmar-vos, seu fedelho impetuoso e desequilibrado!
Capuleto afasta-se e Bettina achega-se a Teobaldo.
— Faça o que ele disse — ordena ela. — Resolva isto mais tarde, pois Lorenzo disse: “em minha casa”. Na rua, porém, podeis agir como quiserdes. Mate-o por esta afronta e depois, fuja da cidade e retorne mais tarde, quando todos já houverem esquecido o caso — idealiza a cruel mulher.
—A paciência e o furor equilibrados, inativos me deixam com seus brados. Vou embora, mas o intruso que hoje é mel, será amanhã o mais amargo fel.
— Isso! — concorda ela.
Teobaldo abandonou a festa. Recusou-se a permanecer no mesmo antro que um inimigo Montecchio, pois talvez, até o final do baile, desobedecesse ao tio.
continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário