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Pelo mundo

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Romeu e Julieta (em prosa e versos)-primeiro Ato " O Baile" - 1

foto: máscara veronesa
O grande salão já estava iluminado, as guirlandas suspensas e espalhando o seu perfume suave; uma mesa com várias iguarias, já tinha sido servida com luxo e beleza.
Os convidados chegavam aos poucos e iam enchendo o salão, com seus risos, suas conversas e suas roupas bordadas e riquíssimas em detalhes; era um verdadeiro show de cores, mas as cores que mais predominavam era o vermelho e o dourado, a cor do brasão da família Capuleto.
Julieta já estava arrumada, aguardando sua ama Filippa vir buscá-la para o baile. Seu vestido era vermelho vivo, num tom bem forte, bordado com rosas singelas em tom branco, contornadas em dourado, pois a cor predominante da família tinha que sobressair-se em sua roupa. Seu cabelo bem longo e negro, protegido com uma espécie de touca do mesmo tecido da roupa, estava impecável, preso em uma trança enfeitada com uma rede de pérolas, sinal da moça disponível para o casamento.
Ela estava deslumbrante! Mas para o Conde Páris, não para alguém que ela, de fato, quisesse enfeitar-se. Olhava-se no espelho e sentia-se estranha. Só conhecia o amor através dos contos que ela criava e narrava às amigas. “Será que o amor existe como nos contos-de-fada?” — indagava-se.
— Julieta! — chama-lhe a ama, despertando-a dos devaneios.
— O baile já começou, vamos! O conde a espera.
Ela soltou um suspiro entediado e queixoso.
— O que foi, ovelhinha? Estás triste?
— Não, ama...
— Não simpatizas com Páris, não é?
Julieta ficou lívida. Sua ama acertara na mosca. E como se entendesse o silêncio dela comentou...
— Eu te conheço bem, Julu...
— Nada posso esconder de ti, não é ama?
— Filha, não fica assim...é natural que tu não gostes dele, afinal, pouco o conheceis, porém, quem sabe se com a côrte e a convivência, não venhas apegar-te ao moço?
— Talvez... é que... é tão estranho... — balbucia Julieta tentando entender.
— Claro, minha bambina! Nunca ouviste falar de amor! Há pouco saíste da infância, então, tal temor é natural para a tua idade... — explica-lhe a boa ama. — Bom, acho que teremos que conversar sobre isso, preciso explicar-te sobre algumas coisas, pois já estás na idade.
Julieta sorriu.
— Acho que tens razão. Como sempre, querida ama!
— Venha! Vamos descer!
Neste mesmo tempo, por uma alameda estreita e escura, munidos de archotes, vinham Mercuccio e sua trupe de músicos mascarados, na direção da casa dos Capuleto. Romeu e Benvólio estavam com eles.
— Por escusas faremos algum discurso, ou entramos sem nenhuma apologia? — pergunta Romeu ao primo.
— Muito falar destoa deste dia. Que nos tomem por quem melhor acharem; mediremos com todos alguns passos e, após, sairemos —explica-lhe Benvólio.
— Dai-me uma das tochas; não me acho disposto para pinotes hoje.
— Não! Tereis de dançar, caro Romeu! —caçoa Mercuccio.
— Nervoso da forma como estou, pesa-me o corpo feito chumbo e meus pés, não conseguem dar um passo.
— É tão fácil! É só acompanhar o compasso!
Mercuccio segura Romeu e para escarnecê-lo, tenta valsar com ele.
Ei! Ei! Me solta!!! — protesta ele.
Os amigos começaram a rir. Indignado, Romeu pisa no pé de Mercuccio.
Ai! Essa doeu! — reclama ele.
— Já disse que não vou dançar hoje!
Mercuccio soltou uma longa gargalhada.
— Ora! Sois um apaixonado! Por empréstimo, tomai as lépidas asas de Cupido! — brinca ele.
— Hum... ROSALINA!!!!! — ri um dos homens e os demais começaram a caçoar dele também, até Benvólio.
Querem parar com isso! — irrita-se Romeu. — Tão transpassado estou por suas setas que nenhuma de suas asas, conseguirá levar-me para o alto! Pois sinto-me pesado, que não posso deixar a dor obscura, esta, nem pelo fardo do amor, gemendo se cura!
— Mas para estar sob ele, é necessário que carregueis o amor, embora um peso excessivo para coisa tão terna — filosofa Mercuccio.
— Coisa terna julgais que seja o amor?! Não; muito dura. Dura e brutal e fere como espinho... — desabafa ele.
— Se o amor convosco é duro, sede duro com ele! Revidando todas as pancadas que der — aconselha-o. — Ponde-o no chão!
Giácomo! Dê-me uma cobertura para o rosto! Em cima de uma máscara, ponho outra! Que me importa que o olhar possa perceber a feiúra?
Dizia Mercuccio, escarnecendo de si mesmo e de sua aparência, que não era tão bela, embora muito feio também não fosse; mas ele se julgava fora dos padrões de beleza e não adiantava dizer-lhe o contrário. Os amigos já estavam acostumados com seu complexo.
— Vamos bater e entrar, e uma vez dentro, que bom uso das pernas todos façam! — combina Benvólio animado.
— Insisto! Dê-me uma tocha! Já meu avô dizia sentencioso: seguro a luz e fico a observar tudo. Fora, muita algazarra; eu, quieto e mudo — pede Romeu outra vez.
— Por que tanto temor, agora? Não querias ver e falar com Rosalina, a ninfa por quem lamenta e chora?! — repreende-lhe o primo.
— É que eu tive um sonho esta noite...
— Oh, mas que coincidência! — intromete-se Mercuccio. — Eu também!
— Sobre o quê? — pergunta Romeu curioso.
— Que os sonhadores sempre mentem e sonho algum, verdade tem! Vamos rapazes! “andiamo”! Já estamos atrasados! — adianta-se Mercuccio, conduzindo os seus bardos.
O grupo seguiu em frente e Romeu ficou pra trás.
Anda primo! Deste jeito, não pegaremos nem a ceia! — grita-lhe Benvólio.
— Eu devo estar mesmo louco. Ir à festa em casa inimiga... Embora mascarado, ainda assim é um absurdo!
O sino do campanário da Catedral de São Zeno, soaram dez badaladas. Romeu ouve o som e vira-se para a igreja e faz uma ligeira prece.
— Apreende o meu espírito algo que ainda pende das estrelas e que vai iniciar seu fatal curso, na festa desta noite, pondo termo à vida desprezível que eu carrego no peito, num açoite. Mas Aquele que se acha no leme da minha viagem, dirija-me a vela!
Ao virar-se para a alameda, percebera que os amigos já iam longe e teve que correr para alcançá-los.
Ei! Esperem!!! — grita ele.


continua...

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