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Pelo mundo

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pigmalião e Galatéia capítulo I


Pigmalião e Galatéia
Adaptação de Paula Dunguel

Existia em Pafos um escultor solitário que vivia apenas para as suas obras. Isolado agora e com poucos amigos, depois de fazer suas orações no Templo de Afrodite, a quem sempre prestara culto, raramente saía de sua casa a não ser a trabalho. Vez ou outra, seu amigo Orestes ia visitá-lo.
O motivo de sua vida solitária, dava-se ao fato de ter sido traído pelas mulheres que passaram por sua vida e a última, a quem julgava ser seu grande amor, fez-lhe a mesma afronta.
Depois de tamanha decepção, ele perdera a confiança nas mulheres. Seu amigo tentava tirar-lhe daquela vida apenas de trabalho.
— Oh, Pigmalião, meu amigo! Não sei como consegues viver assim, apenas para o teu trabalho e nesta solidão?Precisas de uma companheira!
— Cuido-me muito bem assim, da forma que vivo. Não preciso de mulher alguma para cuidar de mim.
— Pelos deuses! Só por causa da decepção que Eurínome causou-te?! Nem todas são assim!
— Correção, amigo Orestes: todas são assim. Todas sempre me decepcionaram. Me desejavam, apenas, por ser conceituado escultor e para oferecer-lhes uma vida de luxo e regrada. Mas enquanto trabalhava arduamente em minha oficina, levavam para o meu leito, amantes mais jovens e divertiam-se às minhas custas!
— Pena sinto de ti. Pois cada dia que te vejo, estás cada vez mais amargurado! Não permitas que o passado, destrua a tua vida, Pigmalião... Saia mais! Divirta-se!
— Grato por tão solícita preocupação, amigo Orestes. mas estou bem...
— Fique com os deuses, meu amigo. Outro dia virei ver-te!
Despediram-se à porta e logo, Pigmalião voltou aos seus afazeres. Tentava distrair a mente, mas de repente, parava e permitia-se chorar. Deixava cair a máscara que teimava em demonstrar ao seu prestimoso amigo.
— Não existe mulher perfeita! Somente se eu a pudesse criar. Criar...
Pigmalião foi dormir naquela noite, com esta palavra martelando-lhe à cabeça.
Na manhã seguinte, foi ao templo de Afrodite, como era o seu costume. Oferecia-lhe incenso e voltava para casa.
Pigmalião não era belo de rosto, todavia, feio também não era. Tinha uma pele morena, olhos amendoados e negros, cabelos acobreados e ondulados, fixos por uma tiara à moda dos gregos; magro, porém não esquelético. Barba bem aparada e vestido como convinha à sua posição de artista.
Suas esculturas eram tão famosas que eram muito encomendadas e ornamentavam muitos templos da região. Com isso, fez uma pequena fortuna; não chegava a ser muito rico, mas o que possuía, permitia-lhe levar uma vida tranqüila, sem se preocupar com o amanhã. Era caridoso e sempre estava disposto a ceder dinheiro, para ajudar a quem precisasse.
Talvez o seu único defeito, seria insistir em viver solitário.
Uma certa tarde, após terminar uma encomenda e vendo-se ocioso, pegou um marfim bruto e começou a dar-lhe forma, sem nenhum objetivo aparente; fazia apenas para distrair-se e passar o tempo. Suas mãos ágeis foram esculpindo aos poucos, aquela massa amorfa e logo, percebera que estava criando a escultura de uma mulher. Talvez a mais bela de todas, que jamais havia feito: cabelos bem longos e sedosos; corpo comparado ao de uma Musa; lábios carnudos e bem delineados; rosto virginal e sereno, que a ele lembrou uma Vestal de pureza e delicadeza nas suas formas. Ao concluir aquela obra, sentiu o coração disparar. “Poderia existir, no mundo, mulher igual aquela?”...
Carinhosamente chamou-a de “minha virgem de marfim”. Passou tanto tempo trabalhando nela, que deixara de ir ao templo e nem saía de sua casa.
Orestes, sentindo a falta do amigo e julgando-o enfermo, foi visitá-lo às pressas.
— O que há contigo, amigo Pigmalião? Nunca mais foste ao templo!
— Estou por demais ocupado, meu amigo — comentava animado. — Creio que estou criando a obra mais linda do meu acervo! Ela é tão perfeita que parece ter vida!
— Por Zeus! Fiquei curioso agora!
Orestes reparou uma escultura coberta no canto da oficina e não cabendo em si de curiosidade, tentou ver, mas Pigmalião não permitiu.
— Não! Não! Não! Ainda não terminei! Quando eu terminar, serás o primeiro a vê-la, prometo! — jurou ele. — Será aminha maior obra! Aquela que entrará para a história, e todos lembrarão do nome PIGMALIÃO!
Orestes conformou-se e esperou até o amigo terminar.
Não satisfeito, Pigmalião resolveu pintá-la. Queria que essa escultura, em especial, fosse diferente dos padrões da época, que eram usadas em matéria crua, sem pintura. A virgem não merecia ser igual às outras; pedia cores, para mais real ainda tornar-se e assim, pintou-a: a pele mais clara que a dele; os cabelos, negros como ébano; nos olhos, usou um tom verde azulado, que lembrava as cores do Mar Mediterrâneo; os lábios, pintou com um tom carmesim e nas faces, um róseo bem suave, esfumaçado à altura das maçãs do rosto.
A imagem ficou linda! Perfeita! Parecia real! Parecia ter vida!
E assim, a estátua despertou em Pigmalião, os mais profundos sentimentos amorosos que guardava dentro de si. Viu-se apaixonado por sua própria arte.
O corpo estava nu e a ele, pareceu um sacrilégio deixar sua dama, assim, tão exposta. Mandou uma tecelã, conhecida sua, tecer para ela um belo vestido e um manto e pôs no pescoço da Virgem, um lindo colar que havia pertencido à sua mãe. A estátua, ainda mais real ficara.
Depois de finda a sua obra, chamou então seu amigo, conforme prometera, e mostrou-lhe a escultura.
— É linda Pigmalião! Uma obra-prima! Mas por que a vestiste?
— Para preservar-lhe a honra. Ela é minha mulher...
— Como? O que disse?! — riu-se o amigo incrédulo, julgando que ele estivesse brincando.
— Criei a minha própria companheira, a mulher que sempre sonhei ter...
— Mas é só uma estátua!!! Não tem vida!
— Engana-se, meu amigo. Ela tem vida! — disse ele acariciando a face fria de sua musa. — Repare! Ela está sorrindo!
Orestes olha, porém, nada vê.
— Pigmalião, por Zeus! Tantos anos de solidão afetou-te a cabeça!!! Isto não faz o menor sentido...
— Para mim faz! Eu a amo!
— Estás totalmente fora de si! Louco!
— SAIA DAQUI! — gritou ele. — Saia se não respeitas minha mulher!
— Mas meu amigo...
— Deixe-me a sós! — lágrimas vieram-lhe aos olhos. — Deixe-me em paz!
Vendo que Pigmalião estava muito alterado e sem condições alguma de dialogar, Orestes decidiu ir embora.
— Tudo bem. Irei embora. Mas retornarei quando estiveres mais calmo.

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